Nas barragens alteadas a montante da Vale, no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, que estão sendo descaracterizadas, os trabalhos prosseguem, mesmo com a pandemia de coronavírus. A descaracterização das estruturas foi decidida depois do rompimento da barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019.
Em uma delas, a Barragem B8, em Nova Lima, o projeto de descaracterização já foi concluído. Em outras oito barragens – Sul Superior (Barão de Cocais), Vargem Grande, Fernandinho, B3/B4 (Nova Lima), Grupo e Forquilhas I, II e III (Ouro Preto) – as obras continuam.
Uma outra estrutura, a barragem de Doutor, na Mina Timbopeba, em Ouro Preto, os trabalhos de descaracterização iniciarão em julho.
De acordo com o engenheiro civil Carlos Miana, gerente-executivo do Programa de Descaracterização de Barragens da Vale, os projetos de engenharia para as estruturas que serão modificadas estão em diferentes estágios.
“Em linhas gerais, os projetos consideram as melhorias no fator de segurança, como rebaixamento do nível de água e/ou reforço da estrutura (em alguns casos), para posterior remoção do rejeito”, diz.
No caso da barragem de Fernandinho, localizada no Complexo Vargem Grande, as obras estavam agendadas para serem iniciadas em maio, com previsão de término no final deste ano. “A previsão é de remoção de cerca de 700 mil m³ entre solo e rejeito, permitindo que a estrutura perca as características de barragem”.
Estruturas de contenção
As três estruturas de contenção a jusante, que a Vale está construindo com o objetivo de reter os rejeitos das quatro barragens em nível 3 de emergência – B3/B4 em Macacos, Sul Superior em Barão de Cocais e Forquilhas I e III em Itabirito – em caso extremo de rompimento, minimizando os impactos às comunidades e ao meio ambiente, segue em diferentes etapas, segundo Carlos Miana.
“A contenção de pedras em Macacos já atingiu a cota máxima de inundação no caso hipotético de rompimento, ou seja, 32 m de um total de 34 m de altura por 190 m de extensão. A previsão é de que as obras complementares, localizadas 8 km a jusante da barragem B3/B4, terminem no início do segundo semestre e protejam o Rio das Velhas e a Estação de Tratamento de Água de Bela Fama, além de toda a Zona de Segurança Secundária (Honório Bicalho, Rio Acima, Raposos e Nova Lima)”.
As empresas de engenharia contratadas pela Vale concluíram as obras da estrutura de contenção de rejeitos localizada a 6 km da barragem Sul Superior. O projeto da estrutura, que possui 36 m de altura por 330 m de extensão, seguiu critérios técnicos internacionais, de acordo com a mineradora, e visa reter 100% dos volumes das barragens Sul Superior e Sul Inferior em um cenário hipotético extremo de ruptura, evitando que os rejeitos alcancem a Zona de Segurança Secundária dos municípios de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.
“A Vale segue analisando eventuais necessidades de ações complementares, junto à consultoria técnica do Ministério Público de Minas Gerais”, afirma Miana.
Já a contenção das barragens de Forquilhas prossegue sendo construída a 11 km a jusante da barragem Forquilha I, na divisa entre os municípios de Itabirito e Ouro Preto, e terá 60 m de altura por 350 m de extensão.
Esta obra é fundamental para proteger a Zona de Segurança Secundária, que inclui, além de Itabirito, os municípios de Raposos, Rio Acima, Nova Lima e três bairros de Belo Horizonte (Bairros Jardim Vitória III, Beija-Flor e Maria Tereza).
“Os estudos de ‘dam break’ das barragens em nível 2 e 3 de emergência da Mina de Fábrica (barragens Grupo e Forquilhas) estão sendo concluídos. Como a obra da contenção depende dos resultados desses estudos, a data para conclusão está sendo reavaliada. Essa data está vinculada ao porte da estrutura, à complexidade das atividades de fundação e à evolução do detalhamento dos projetos de engenharia”, relata Miana.
A barragem de Vargem Grande, incluída dentro do plano de descaracterização de barragens a montante da empresa, teve executadas obras de rebaixamento do lençol freático e no canal extravasor, além da construção de canais de cintura, que servem para evitar a contribuição de águas pluviais para a estrutura.
“Foram instalados um radar e instrumentos adicionais aos já existentes, melhorando o monitoramento da estrutura. No momento, estão sendo instalados piezômetros de profundidade, além de sondagens em todo o maciço e no reservatório, para definição da metodologia que será adotada para descaraterização da estrutura”, informa.
O que foi feito?
Na primeira reportagem da revista Minérios e Minerales sobre a descaracterização de barragens com alteamento a montante promovida pela Vale, publicada na edição 404 (janeiro-fevereiro 2020), foi mostrada que a etapa inicial dos trabalhos nas nove estruturas sob intervenção foi aumentar o fator de segurança, principalmente nas que apontavam níveis 2 ou 3 de alerta de segurança.
A primeira medida foi retirar a água das estruturas, um dos principais fatores que aumenta o risco de liquefação. Foram construídos também no entorno dessas barragens 15 km de canais para que a água de chuva fosse drenada e não carreada para dentro da estrutura, como ocorria antes das obras.
Nas barragens que exigiram estruturas de contenção a jusante, a reportagem relatava as suas obras em diferentes fases.
A barragem 8B, a primeira com os trabalhos de descaracterização finalizados, foi feito um aterro de enrocamento a jusante com objetivo de garantir estabilidade de longo prazo da estrutura.
Depois da retirada do alteamento e feita a reconformação do terreno, construiu-se um canal ao centro, onde a água que acumulava no antigo barramento passou a percorrer. A área onde ficava a barragem B8 foi revegetada.
Várias ações de descaracterização das estruturas onde os trabalhos prosseguem estão sendo estudadas. Por conta de segurança e os riscos eminentes, o uso de equipamentos controlados remotamente, sem operador dentro do veículo, estava em fase final de testes. Inspeções por meio de drones têm sido outra inovação adotada para avaliar a barragens ainda a serem descaracterizadas.
Coronavírus
A Vale esclarece que por conta da pandemia de coronavírus, todos os empregados das obras passam por entrevista para triagem e medição de temperatura diariamente, antes de iniciar a jornada, para evitar que alguém com sintoma acesse os locais de trabalho.
Caso a pessoa apresenta qualquer um dos sintomas ou relata ter tido contato com alguém sintomático ou positivo para a covid-19, é imediatamente liberado do trabalho para cumprir quarentena preventiva e receber acompanhamento da equipe de saúde.
No caso de uma pessoa alojada precisar cumprir quarentena preventiva, ela fica isolada em acomodação exclusiva individual e em um imóvel específico para quarentena. Se houver um caso confirmado na obra, todos que entraram em contato com o empregado entrarão automaticamente em quarentena.
Nas frentes de obras, foram adotadas medidas para aumentar a proteção das pessoas, em conformidade com as recomendações das autoridades de saúde. Nos refeitórios, por exemplo, foi adotado uso de marmitex; marcação no solo da distância na fila; aumento do horário de funcionamento para evitar aglomeração; uso de materiais recicláveis e distância entre as mesas; mudança no atendimento, com apoio de uma pessoa específica para servir e controle de higienização.
Em todos os locais, foram disponibilizados álcool em gel e orientações sobre prevenção do contágio. A higienização das instalações, ferramentas e dos equipamentos foi reforçada e todos os eventos e ações que promovem aglomeração de pessoas foram canceladas. Nos ônibus que transportam os empregados, a lotação dos veículos foi limitada a 50%; houve aumento no número de viagens; higienização do veículo a cada viagem; disposição dos passageiros em diagonal e poltronas identificadas; disponibilização de álcool em gel na entrada do veículo; adoção de ventilação natural e orientação nos pontos de ônibus para reforço permanente das medidas que todos devem seguir para proteger a sua saúde e das demais pessoas.
A Vale também adotou o uso de máscara de tecido para suas equipes nas obras. Cada empregado está recebendo 8 unidades de máscaras.