Com reservas de níquel estimadas em 16 milhões de toneladas, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial, atrás apenas da Indonésia (55 Mt) e da Austrália (24 Mt). No entanto, a produção ainda é modesta – foram 89 mil toneladas em 2023, para uma participação de mercado global de 2,47% -, o que torna o país o nono produtor, segundo dados do Serviço Geológico dos EUA. É o único latino-americano entre os 10 maiores produtores globais de níquel.
O destaque nacional vai para Goiás. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a maior parte do níquel extraído no Estado é beneficiado no Brasil e exportado, principalmente, para países como Reino Unido, China, Bélgica, Espanha e EUA. A produção é concentrada em minas a céu aberto e em plantas de beneficiamento, como as da Anglo American, que tem dois ativos no Estado: Barro Alto, na cidade de mesmo nome, e Codemin, que fica em Niquelândia.
Em 2024, a empresa produziu 39,4 mil toneladas de níquel. Para 2025, a projeção é de 37 a 39 mil toneladas. Ambas as plantas trabalham por meio de processos pirometalúrgicos, compreendendo as etapas de preparação de minério, fornos calcinadores, fornos elétricos, refinaria e expedição.
O negócio de níquel da Anglo American atende tanto às cadeias de valor do aço inoxidável quanto às baterias. Em fevereiro deste ano, a empresa vendeu as operações de níquel no Brasil para a MMG Singapore Resources, unidade da chinesa MMG, por US$ 500 milhões. US$ 350 milhões serão pagos adiantados, até US$ 100 milhões em earn-out vinculado ao preço e mais US$ 50 milhões dependendo da decisão final de investimento nos projetos.
A transação inclui as duas operações de ferroníquel, além de dois projetos minerais de níquel para desenvolvimento futuro: Morro Sem Boné (Mato Grosso) e Jacaré (Pará). Barro Alto é a única mina de níquel do mundo certificada com o Padrão IRMA 75, alcançado no ano passado. O projeto Jacaré possui 300 milhões de toneladas de recursos minerais, enquanto Morro Sem Boné (MSB) tem potencial de 65 milhões de toneladas.
Segundo o relatório global da Anglo American, a operação de níquel de Barro Alto e de Niquelândia manteve estabilidade operacional em 2024, com produção de 39,4 mil toneladas de minério, ante 40 mil toneladas em 2023. O Ebitda do negócio caiu 31%, para US$ 92 milhões (2023: US$ 133 milhões), por conta da queda no preço do minério e no volume de vendas.

Ao comentar o acordo com a chinesa MMG, a presidente da Anglo American no Brasil, Ana Sanches explicou que as duas empresas iriam trabalhar em uma transição tranquila para todas as partes envolvidas e que a rotina das unidades de Barro Alto e Codemin seguirá normalmente até a conclusão do acordo, previsto para ser finalizado no terceiro trimestre deste ano, quando o empreendimento passará a ser de responsabilidade da nova empresa.
As duas operações possuem atualmente cerca de 2,5 mil empregados entre próprios e terceiros. O principal cliente do negócio é a indústria de aço inoxidável, com abastecimento dos mercados interno e externo.
Detalhes do processo
As operações de níquel contam com duas minas a céu aberto, sendo a de Barro Alto com maior movimentação e capacidade de alimentar as duas plantas, que trabalham por meio de processos pirometalúrgicos – que usam altas temperaturas para extrair e purificar metais de minérios. O processo produtivo compreende as etapas de preparação de minério, fornos calcinadores, fornos elétricos, refinaria e expedição.
Inicialmente, o minério precisa ser beneficiado para atender às especificações do processo. A primeira etapa de processamento acontece na preparação de carga – em que o minério é cominuído, seco, e aglomerado para ser alimentado na calcinação.
Na calcinação, na unidade de Barro Alto, o minério é submetido a uma temperatura média de 800ºC com presença de carvão mineral, levando às primeiras reações químicas. Na unidade de Niquelândia, ao invés de carvão mineral, é utilizado o cavaco de madeira. O minério calcinado é alimentado nos fornos elétricos para o término do processo de redução, que ocorre por meio de um arco elétrico aplicado na carga que aumenta a temperatura do material até 1500ºC, promovendo a fusão do minério. Nessa condição, o minério reage com o redutor (carvão mineral/ cavaco de madeira) remanescente, promove a separação do ferroníquel metálico e forma a escória.
Os fornos são submetidos a vazamentos frequentes, e o metal líquido é transferido para panelas com revestimento refratário e destinado para as etapas de refino. Nesta etapa, é realizado o ajuste químico da liga com a retirada de impurezas.
Com a qualidade adequada, o material é direcionado para a etapa de granulação, em que ocorre a solidificação do metal, que já atinge o formato de produto final, estando pronto para o processo de despacho a granel ou em big bag.