Considerada a maior mina do Estado de Minas Gerais, a Mina de Brucutú, da Vale, situada em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG) e com previsão de produção de 30 milhões de toneladas anuais de minério
de ferro, tem passado por diversas mudanças que visam dar mais segurança e sustentabilidade em suas operações na região. A mina, que faz parte do Complexo Minas Centrais do Sistema Sudeste da mineradora, teve seu comissionamento retomado em 2019 após uma paralisação temporária na barragem de Laranjeiras, na área do complexo. Desde então, a mineradora vem adotando tecnologias que visam a eliminar o uso de barragens, a fim de evitar riscos ambientais e operacionais.
Um desses exemplos é o projeto Cava CMD, que consiste em cavas para armazenar rejeitos de forma segura e que faz parte do Programa de Disposição de Rejeitos do Sistema Sudeste. A iniciativa mostra como foi feita a abertura das cavas com a modelagem digital do seu escopo, usando tecnologias como BIM (Building Information Modeling), 4D, AWP (Advanced Work Packaging), MAPPLY e instalando o CCO (Centro de Controle Operacional).
“A Vale vem desde 2019 inovando nesse processo de disposição de rejeitos e implantou um programa de filtragem de forma que pudesse fazer a disposição destes já filtrados, e assim conseguimos fazer uma disposição ao invés de forma convencional nas barragens, fazemos um empilhamento de forma mais sustentável em cavas, no formato semelhante a um bolo. Assim, à medida que vamos produzindo e filtrando, transportamos por veículos autônomos ou rodoviários, fazendo o empilhamento nesta cava.
Mas este processo de abertura das cavas não é simples.

As cavas precisam ser preparadas uma em sequência da outra. Por isso, com o
BIM e o sistema AWP, fizemos um processo de modelamento em 3D de forma que conseguíssemos fazer uma gestão contra restrições e erros, e passar para a área de operação uma previsibilidade muito maior”, explicouJoão Carlos Araújo, gerente Geral de Projetos do Corredor Sudeste, um dos autores do projeto “Tecnologias Sustentáveis na Abertura de Cavas”, que foi premiado no 6º InovaInfra 2025 da revista O Empreiteiro, parceira da revista Minérios e Minerales.
Além da otimização no processo da abertura da cava, as tecnologias utilizadas resultaram em sustentabilidade, como acrescentou Pedro Marcelo Cunha, gerente de Construção do Corredor Sudeste, também um dos autores do projeto premiado. “Nesse controle com as tecnologias, fazemos
eliminação de desperdícios como as paradas de carregamentos, tempo de manutenção de vias, e, assim, tirando equipamentos e também pessoas de situações de risco, além de reduzir a emissão de CO2.
Antigamente, fazíamos cavas com vários equipamentos, agora estamos trabalhando mais com menos
máquinas. Além disso, fazemos também voos de drones para ver o perfil geológico, riscos de taludes, planos de chuva etc. Então, é uma integração com vários sistemas embarcados”, detalhou Pedro, que enfatizou: “o rejeito filtrado para nós é um desafio que queremos aprender e melhorar, produzindo
mais resultado porém com mais segurança”, frisou.
Com um capex de R$335.000.000,00 e uma movimentação de 7.800.000 toneladas de estéril e minério em 21 meses, a Cava CMD Leste/Oeste já mobilizou mais de 8 mil trabalhadores, sem registrar nenhum acidente. No total, a obra soma mais de 1000 dias de operações seguras com a implementação das novas tecnologias em seu planejamento.
COMO AS TECNOLOGIAS FORAM UTILIZADAS
Com o desafio do sequenciamento da obra, cronograma e medidas de segurança, foram adotadas metodologias de execução com as seguintes tecnologias:
- BIM: Com a visualização da obra antes dela existir, o BIM permitiu a criação de modelos digitais para identificar os problemas antes mesmo de começar, como a geometria de bancadas, bermas e taludes das
movimentações, permitindo um planejamento mais preciso. - AWP: A tecnologia dividiu o pacote das obras, que são subdivididas em trabalhos individuais, o que ajudou a ter menos atrasos, menos trabalho e mais eficiência.
- Mapply: Utiliza drones para análise e planejamento detalhado, permitindo monitoramento em tempo real. Com os drones, foram capturadas imagens detalhadas das áreas em um curto período, além de
acessar locais de difícil alcance para humanos, tornando o mapeamento mais seguro e eficiente e sem expor equipes ao risco. Com os levantamentos topográficos e dados detalhados, foi possível identificar gargalos, fazer cálculos dos volumes de pilhas, criar mapas tridimensionais e outras informações fundamentais.
Gestão Lean: foi implementada com o objetivo de maximizar o valor para o cliente, minimizando o desperdício. Foram utilizadas ferramentas como o mapeamento de fluxo de valor e a metodologia Kaizen
para promover a melhoria contínua em todas as fases do projeto.
As atividades com essas ferramentas fazem parte do Hub de Inovação do Sistema Sudeste, fundado em dezembro de 2022. O Hub fornece formação teórica e experiências práticas sobre ferramentas tecnológicas, como soluções sustentáveis para as operações do complexo.
CCO: O Centro de Controle Operacional foi implementado como uma central de monitoramento em tempo real de todas as operações, utilizando tecnologias Sodep/ Minetrack. Essa central permitiu uma
resposta rápida a qualquer problema surgido durante a execução, otimizando a segurança e a continuidade das operações.
RESULTADOS
● Mobilização: Com a metodologia, a mobilização foi antecipada em 22 dias do início do projeto, trazendo resultados significativos. Durante esse período, foram mapeadas 119 restrições, das quais 78%
foram resolvidas com sucesso. Além disso, foram movimentados 96.000 t de material, o que resultou em um faturamento antecipado de R$820.000 para a empreiteira.
● Execução: Em apenas 7 meses de obra, a execução do projeto apresentou uma tendência de antecipação na conclusão da escavação da CMD Oeste em 3 meses. Nesse período, foram escavados 182.000 t acima do previsto. Com a otimização da produção e redução do uso de combustível, também houve a redução de 21,38% nas emissões de CO2eq. Além disso, houve um faturamento antecipado de
R$1.321.000,00 na captura do escopo do empilhamento de estéril de mina em outra estrutura do complexo, a PDE São João.
● Planejamento: O avanço físico de 1,56% acima da linha de base indicou um progresso superior ao esperado. O índice de resolução de restrições de 6WLA – Pull Planning de 91% demonstrou eficiência na
gestão de obstáculos.
● Custos evitados: Com 36,62% do escopo realizado, foram capturados R$9.500.000. Houve uma significativa redução no consumo de diesel fornecido pela Vale, passando de 1,45 L/m³ para 1,14L/m³, totalizando uma economia de 515.894 litros. Além disso, a redução de 428 t CO2/m³ movimentado contribuiu para menor impacto ambiental. A coordenação das etapas de empilhamento de rejeitos também reduziu riscos.
O custo evitado para o escopo mapeado é de R$39.500.000. Entre junho de 2024 e a conclusão do escopo, reduziu-se de forma significativa o consumo de diesel fornecido pela Vale, totalizando, na primeira fase do projeto, 1.124.895 litros. Somente o custo evitado representa uma média de 15% do valor total do projeto.
ESG: A estratégia ESG para o projeto Cava CMD Leste/Oeste foca na mineração responsável, soluções de baixo carbono e respeito aos direitos comunitários e ambientais. Inclui saúde e segurança, com
10.000 horas de qualificação e um TRIR de 0.
A estratégia de aterro zero reaproveitou 99% dos resíduos, economizando R$500.000 e reduzindo 18 tonCO2eq. Resíduos recicláveis foram destinados a associações comunitárias, gerando empregos.
Usou-se 100% de água de processo e combustíveis verdes, reduzindo 77 tonCO2eq e 95% de Sox. Além disso, o projeto priorizou mão de obra e fornecedores locais, impactando 45.000 pessoas, promovendo
assim desenvolvimento territorial e qualidade de vida na região.
EMPRESAS DE ENGENHARIA ENVOLVIDAS NO PROJETO “TECNOLOGIAS EM ABERTURA DE CAVA EM BRUCUTÚ”
Agis, CIMCOP S/A Engenharia e Construções, Sodep e PHD Engenharia.