Dosagem de oxigênio auxilia recuperação de ouro na lixiviação da planta de Roça Grande

Dosagem de oxigênio auxilia recuperação de ouro na lixiviação da planta de Roça Grande

Na planta metalúrgica da Jaguar Mining Complexo Caeté, unidade de Roça Grande, o minério recebido da mina Pilar, passa por duas etapas de britagem, seguido de cominuição por moagem convencional a uma taxa de 100t/h. O fluxo de underflow ou carga circulante passa por um concentrador gravítico tipo knelson, enquanto o produto do moinho alimenta o circuito de flotação, e o concentrado gerado é espessado para que possa ser tratado na área de Lixiviação.

A produção da planta de Roça Grande compreende então, dois concentrados como produto final, sendo um de gravimetria e outro da eluição do carvão do CIP.

A Jaguar Mining apresentou então, um estudo para avaliar através de ensaios laboratoriais e teste industrial, diferentes condições de pré–condicionamento do processo de lixiviação do concentrado de flotação. Através dos resultados buscou-se aprimoramento desse processo de pré condicionamento para melhorar a recuperação de ouro na planta.

COMO FOI DESENVOLVIDA A METODOLOGIA

A companhia detalhou que, a fim de maximizar a eficiência da cianetação, foi feito o pré condicionamento de polpa em pH 8,0 a 8,5 (prelime brando) e em pH 10,0 a 10,5: (Prelime alcalino), com a injeção de oxigênio por meio de um difusor acoplado a bomba de recirculação de polpa e lanças de injeção projetadas pela White Martins, conforme a fluxograma:

FLUXOGRAMA DE PROCESSO DA ÁREA DE LIXIVIAÇÃO

De acordo com as características do minério recebido e com as análises de teor de alimentação, e rejeito, são feitas alterações na configuração para otimização do processo, a exemplo: o by-pass de um ou mais tanques e, alteração da vazão de alimentação.

Para os ensaios de laboratório, foram coletadas amostras de concentrado de flotação, que foram secas em estufa à temperatura de 60°C. Foi realizado o quarteamento da amostra para retirada de alíquotas para análise e determinação do teor de ouro e também para a realização dos testes. Foram utilizados diferentes agentes oxidantes (Oxigênio, peróxido de hidrogênio e hipoclorito de cálcio).
Mantiveram–se fixas as faixas de pH a 10,5 nas etapas de cianetação e adsorção (CIP), e demais condições estabelecidas.

O estudo da equipe da Jaguar investigou então as principais causas operacionais que impactavam a recuperação de ouro na etapa de lixiviação, e o alto consumo de oxigênio no processo. Utilizando a técnica de brainstorming, foram coletadas informações da gerência, coordenadores e operadores. Após a análise dos dados, observou-se que as principais causas apontadas para tais distúrbios estão relacionadas às questões operacionais, falta de padronização e sistema de controle de dosagem de oxigênio manual. Iniciou-se então uma campanha de conscientização dos operadores sobre a melhor forma de dosagem para otimizar o pré condicionamento, promovendo a oxidação de cianicidas para uma maior recuperação de ouro na etapa de lixiviação.

O treinamento e acompanhamento foram importantes, pois através dessa orientação foi possível abordar a importância de uma dissolução de oxigênio eficaz na polpa para otimização do processo, deixando claro que a solução para que isto ocorra não é o excesso de dosagem, que acaba resultando em perdas.

De outro modo, a correção e controle dos parâmetros de processo, tais como forma de injeção de oxigênio e vazão de dosagem, controle de pH, homogeinezação do material, densidade e percentual de sólidos da polpa para melhor dispersão das microbolhas de oxigênio na polpa, são essenciais para a eficiência da cianetação. Através dos ensaios de laboratório observou-se correlação entre as concentrações alcançadas de oxigênio dissolvido na polpa e a recuperação de ouro. Estes representam a variação da concentração de oxigênio dissolvido (OD) no pré condicionamento da polpa para lixiviação de ouro, correlacionando esses valores com a recuperação global de ouro (%).

O oxigênio dissolvido é um agente fundamental nessas etapas, pois atua como oxidante auxiliar no preparo da polpa para a lixiviação cianetada. Sua presença favorece a oxidação de minerais sulfurados e compostos redutores, que de outra forma poderiam consumir cianeto ou encapsular partículas de ouro, dificultando sua recuperação. Assim, manter níveis adequados de OD contribui para melhorar a reatividade da polpa com o cianeto na etapa seguinte; reduzir o consumo de reagentes, e aumentar a eficiência da extração do ouro, refletida na elevação da Recuperação Global (%).

Quanto a análise dos dados agrupando-se os tipos de oxidantes utilizados no pré- condicionamento, nota-se que há uma correlação positiva moderada a forte entre os níveis de OD (tanto na etapa branda quanto na alcalina) e a recuperação global, indicando que o controle do oxigênio dissolvido é um fator crítico para o sucesso do processo. O reagente peróxido de hidrogênio, mostrou nos ensaios de laboratório alto potencial para aumentar a recuperação de ouro na lixiviação, mas este deve atuar em conjunto com o oxigênio. Desta forma, a aplicação prática desta condição na planta de Roça Grande, teve início em agosto de 2023, observou-se desde então uma tendência de aumento de recuperação da lixiviação.

No período compreendido entre janeiro de 2022 e julho de 2023, foram identificadas dificuldades significativas na estabilização dos circuitos de lixiviação e CIP, especialmente no que tange ao controle dos rejeitos e à eficiência na recuperação do ouro. Durante esse intervalo, observou-se um comportamento oscilatório nos indicadores operacionais, caracterizado pelo chamado “efeito serrote”. A introdução do peróxido de hidrogênio no processo de pré-condicionamento da lixiviação, implementada posteriormente, contribuiu para uma melhora na eficiência de recuperação do ouro de 87,4 para 87,7 (0,3%). Ao mesmo tempo que houve um incremento na recuperação metalúrgica da lixiviação, observou-se também uma redução no consumo de insumos no processo.

O consumo de cianeto que já havia reduzido em períodos anteriores, tem demonstrado essa tendência de estabilização, enquanto o consumo de oxigênio vem reduzindo desde o período de introdução do peróxido de hidrogênio como um auxiliar no condicionamento da lixiviação.

RESULTADOS E REDUÇÃO DE CUSTOS

Observou-se que o entendimento dos conceitos e aplicação prática dos conhecimentos na etapa de pré condicionamento é fundamental para melhorar a cinética e recuperação metalúrgica da cianetação, bem como no controle de insumos.

A fim de demonstrar qual seria o custo com insumos da planta com e sem a inclusão da dosagem de peróxido de hidrogênio foi feita uma projeção de custo para o período de realização do teste, com as mesmas condições praticadas entre 2020 e julho de 2023 (antes do teste). Na comparação, o consumo real compreende os custos com cianeto, oxigênio peróxido. Já o consumo projetado considera somente cianeto e oxigênio, ainda assim observa-se um saving de dois milhões e seiscentos mil reais (R$2,6M) após o período de inclusão do peróxido de hidrogênio no processo e intensificação dos controles operacionais de adição de oxigênio na polpa.

Diante desses resultados, concluiu-se que implementação de técnicas de pré-condicionamento, incluindo a utilização de peróxido de hidrogênio, mostrou-se eficaz na estabilização dos circuitos de lixiviação e na eficiência da extração de ouro, aumentando em 0,3% a recuperação metalúrgica na etapa.