*A indústria mineral brasileira historicamente desempenha papel relevante na participação do PIB nacional, apesar dos fluxos e refluxos do cenário econômico globalizado com impacto nos preços de commodities minerais.
Em cenário de preços deprimidos, para a maioria dos commodities minerais, uma leitura do comportamento do mercado (demandas/ofertas) é essencial para tomadas de decisões com maior controle dos riscos financeiros.
Demandas por commodities no mercado é a força que alavanca decisões para implementar ações no contexto da cadeia produtiva do setor mineral, com o objetivo de se atingir metas de produtividade planejadas.
Dois cenários a se destacar em razão de cotações de commodities no mercado.
Cenário de preços baixos: Como melhorar resultados de produtividade na Mina e na Planta com redução de custos? Preços baixos de commodities obrigam o setor produtivo a revisitar suas políticas de controle de custos, ou seja, aumentar produtividade sem investimentos adicionais.
Com foco nesse assunto, a revista Minérios & Minerales promoveu nos dias 15 e 16 de maio de 2018, na cidade de Belo Horizonte (MG), o IX Workshop Redução de Custos na Mina e na Planta, com temas abordando alternativas inovadoras, visando maximizar resultados (produtividade) em operações na lavra e nas plantas de processamento mineral.
Destaque para soluções técnicas apresentadas por empresas com renomada participação na indústria mineral brasileira, em painéis como britagem e peneiramento; barragem e tratamento de rejeitos; correias transportadoras; desmonte de rocha com explosivos e frota de transporte.
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A difusão do carro elétrico ampliou a demanda por minerais como lítio e cobalto
O Workshop apresentou temas focados na produção (final da cadeia produtiva do setor mineral).
Empresas tradicionais com projetos em operação propuseram excelentes possibilidades de intervenções (sistemas operacionais com resultados eficientes) para melhorar resultados de produtividade na mina e na planta – os quais, sem nenhuma exceção, estão relacionados ao conhecimento das características físico-químicas de minérios que, em outras palavras, significa ter controle adequado da distribuição dos metais no depósito, o que é possível com um modelo geológico robusto.
Outro tema relevante discutido no evento foi o monitoramento de barragens com soluções relacionadas à utilização de drones e sensores acoplados a satélites. Monitorar segurança de barragem é imprescindível, mas, nenhum drone ou processamento digital de imagens – por mais sofisticados que sejam – podem antecipar riscos. Essas ferramentas ligam a luz vermelha quando o processo de ruptura já pode ter se iniciado. Em contrapartida, a utilização de GPS é vital para otimizar fluxo de cargas na mina e na planta (elimina/reduz hora de equipamentos ociosos). Inteligência artificial ajuda muito, mas não substitui o martelo e a botina no campo.
Cenário de preços altos: Como expandir o negócio? Preços altos de commodities não devem ser traduzidos como possibilidade (exclusiva) de aumento de produção. Esse é o melhor momento para desenvolvimento de atividades de exploração brownfield (com objetivo de repor as reservas minerais depletadas/projetos “near mine”). É a hora de se rastrear commodities minerais de interesse em novas fronteiras de exploração mineral, ou revisitar ambientes geológicos já conhecidos (projetos greenfield).
Nesse sentido, a Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb) promoveu, entre os dias 20 a 23 de maio de 2018, o VIII Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral – Simexmin com abordagem e debates em temas relacionados ao novo arcabouço legal do setor mineral brasileiro; o potencial do País para depósitos Au, Cu-Au tipo pórfiro e epitermais; perspectivas do mercado de commodities minerais e competitividade do Brasil; novas descobertas “near-mine” no País e declaração de resultados de exploração, recursos minerais e reservas minerais.
Destaque especial, nesse evento, para uma homenagem ao professor Onildo João Marini, que se desliga da diretoria executiva da Adimb, onde atuou por quase 20 anos com grande dedicação e competência, produzindo resultados relevantes e expressivos, estimulando sinergia entre empresas, governo e universidades em defesa do setor mineral brasileiro. Homenagem merecida.
Em Ouro Preto, no VIII Simexmin, os temas apresentados tiveram foco na exploração (ponta inicial da cadeia produtiva do setor mineral).
Muitas discussões trataram sobre escolha de melhor ambiente geológico para alocar investimentos em commodities de interesse, com destaque especial para sistemas pórfiros (Cu-Au), objeto de interesse de grandes players que estão alocando investimentos em programas de exploração mineral na região de Alta Floresta-Matupá (MT), onde afloram extensas manifestações de rochas plutônico/vulcânicas (magmatismo ácido) conhecido na literatura geológica como evento uatumã.
Outro tema importante no Simexmin foi o cuidado com a segurança da informação gerada (QA/QC) durante o desenvolvimento de projetos e, também, a importância de profissionais qualificados para implementar e monitorar programas de exploração (Comissão Brasileira de Recursos e Reservas).
Foram abordados temas em torno das expectativas (de todos os atores do setor mineral) com as novas regras (medida provisória que está para sair) visando desengavetar dezenas de milhares de processos que estão tramitando na fase de disponibilidade no DNPM (hoje, Agência Nacional de Mineração). O Serviço Geológico do Brasil (ex-CPRM) desenvolve estudos visando caracterizar “potencial prospectivo” para embasar lances mínimos de áreas em disponibilidade, localizadas em províncias minerais de relevante interesse (via leilão).
Para os dois cenários acima mencionados, as respostas/soluções têm relação direta (inexorável) com o modelo geológico construído a partir de base de dados gerados nos programas de exploração (definição de recursos minerais), passando pela fase de delimitação e caracterização econômica do depósito mineral descoberto (definição de reservas minerais) e, finalmente, para a fase de produção (lavra e processamento).
Essa assertiva é válida para qualquer commodity mineral, desde agregados para a construção civil, calcário agrícola, fertilizantes, metais ferrosos e não ferrosos, metais preciosos, petróleo, tudo.
A construção de modelos geológicos bem estruturados permite a elaboração de modelos de blocos mais precisos que, por sua vez, serão utilizados para planejamento de lavra, que orientará operações na mina de tal forma que a carga de minério a ser processada se apresente com parâmetros físico-químicos, dentro de patamares técnicos aceitáveis para otimizar o processamento industrial.
A elaboração do modelo geológico influi nas decisões na escolha de equipamentos para operações de lavra (mina) e processamento mineral (planta de beneficiamento).
A elaboração de modelos de blocos (para qualquer commodity) utiliza critérios geoestatísticos (krigagem) para modelar (definir) a geometria de envelopes com características específicas (teor, densidade, litologia etc.), a partir de base de dados que inclui geologia de superfície e subsuperfície (sondagem), além de resultados de análises de amostras geoquímicas.
Políticas de controle de qualidade (QA/QC) são essenciais para validar todos os dados (em todas as fases da cadeia produtiva do setor mineral), de tal forma a garantir grau de confiança (geoestatística) adequado para tomadas de decisão. A Comissão Brasileira de Recursos e Reservas (CBRR), a exemplo da NI-43101 (Canadá) e JORC (Austrália), orienta/recomenda que todas as atividades de exploração sejam administradas por profissionais com reconhecida experiência/skill para o commodity de interesse.
É esse profissional que assume as responsabilidades por todas as informações do projeto a serem disponibilizadas para o mercado de commodities, visando dar suporte para decisões de investimentos (ou negócios). Deve reportar informações precisas (referente ao estágio de desenvolvimento em que se encontra o projeto) destacando-se: dados do projeto, classificação de recursos e reservas minerais, método de lavra, infraestrutura, aspectos ambientais, viabilidade econômica e análise de risco e recomendações. Devem ser informações validadas, com qualidade e confiabilidade para suportar auditorias técnicas e financeiras por parte de agentes reguladores (Agência Nacional de Mineração, Ministério das Minas e Energia, Ministério do Meio Ambiente) e investidores (acionistas, fundos de investimento, bolsas de valores etc.).
Os assuntos abordados nos dois eventos (IX Workshop/M&M & VIII Simexmin/Adimb) são de extrema importância e têm relação com conceito básico de geologia, o qual pode ser traduzido pelo termo modelo geológico, que é concebido a partir de dados produzidos durante o desenvolvimento do projeto, desde a fase de exploração (descoberta e definição de recursos minerais) até a fase de produção (definição de reservas minerais lavráveis), que permitirão orientar caminhos para lavra e processamento com metas de produtividade pré-estabelecidas.
Hoje, o mercado de commodities minerais está com apetite aguçado para metais como zinco, lítio, cobre, níquel, cobalto e ouro (são os que têm respostas positivas em cotações em bolsas de Londres, Canadá e Austrália) e muito pouco é falado (por aqui) sobre fertilizantes (inclua-se calcário agrícola), agregados minerais e água potável. Imaginamos uma sociedade com escassez de metais base e metais preciosos.
Imaginamos essa mesma sociedade com escassez de alimento (fertilizantes), energia e água potável.
Do ponto de vista social, as respostas terão repercussão de gravidade variada, mas obviamente bem diferentes. Nesse sentido, já temos um exemplo real do que é o dia a dia de cidadãos em áreas desabastecidas de tudo por falta de combustível…
*Vitor Mirim é geólogo de exploração da VRM Geologia e Mineração