Mineradora cria adubo orgânico e melhora reflorestamento no PA
O reflorestamento e a gestão de resíduos são considerados alguns dos maiores desafios ambientais na mineração. Esses desafios se intensificam quando o solo orgânico não está disponível para o reflorestamento e quando a incineração de resíduos orgânicos se revela uma opção insustentável, tanto do ponto de vista ambiental quanto financeiro. Diante dessas questões, a equipe da Hydro Paragominas criou um projeto com o objetivo de buscar uma metodologia que melhorasse a condição do solo infértil, por meio da utilização de resíduos orgânicos processados, provenientes do refeitório da mineradora, e acelerando a vegetação das áreas mineradas.
Desde 2015, a mineração evitou a incineração de mais de 1.165.555 toneladas de resíduos orgânicos, contribuindo para a sustentabilidade, evitando a emissão de 2.137,86 toneladas de CO2, gerando uma economia de R$ 1.332.305,89 com custos desse processo e fomentou parcerias com instituições de pesquisa.
COMO FOI CRIADO O MATERIAL ORGÂNICO
A Hydro é uma empresa global de alumínio e energia renovável, que atua em toda a cadeia de valor do alumínio no Brasil, desde a extração de bauxita até a produção e extrusão de alumínio. A operação da Hydro em Paragominas produz 11,4 milhões de toneladas de bauxita, transportada por um mineroduto de 244 km até Barcarena, o primeiro do mundo a realizar esse transporte. Até 2023, a empresa realizou a
recuperação ambiental de 3 mil hectares.
Atualmente, a Mineração Paragominas utiliza três técnicas de recuperação de áreas mineradas: 1) Plantio Tradicional, que inclui coleta de sementes, produção de mudas e plantio; 2) Indução da Regeneração Natural, que consiste no transporte e espalhamento de solo orgânico na área a ser recuperada; e 3) Nucleação, que envolve o transporte de solo orgânico e resíduos florestais (galhadas e raízes) para as áreas a serem recuperadas. Todas as técnicas têm em comum o uso de solo orgânico, um recurso natural e limitado.
Sendo assim, visando enriquecer o solo estéril da mineração de bauxita com matéria orgânica dos refeitórios da mineradora, a Hydro criou um tecnossolo que substitui o topsoil e favorece a recuperação
ambiental e o reflorestamento.
O trabalho foi realizado em uma área de recuperação ambiental pós-mineração de bauxita, onde o substrato estéril apresentava baixa teor de nutrientes e matéria orgânica.
A área escolhida para o experimento foi formada a partir do estéril pós-lavra de bauxita, que foi espalhado para preencher a cava e conformar o terreno. O objetivo foi alcançar uma topografia semelhante à de áreas planas da região.
O experimento foi conduzido em blocos casualizados com quatro tratamentos (10, 20 e 40 t/ha de matéria orgânica dos refeitórios, e um tratamento testemunha sem matéria orgânica), aplicados em parcelas de 5 m x 10 m, com cinco repetições. A matéria orgânica foi incorporada manualmente no estéril a 10 cm de profundidade. O Cajanus Cajan foi utilizado como planta indicadora e para cobertura do solo, devido à sua fixação de nitrogênio.
AMOSTRAGEM PARA BIOMASSA E RESULTADOS
O início da floração, após 186 dias, foram medidas a altura e coletada a parte aérea do feijão guandu. A biomassa foi quantificada com amostras coletadas em três subparcelas de 1 m² por parcela experimental, e as amostras foram secadas em estufa a 65°C no laboratório da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).
FLORAÇÃO DO FEIJÃO GUANDU
A incorporação de compostos orgânicos ao estéril teve efeito significativo na camada 0- 5 cm, aumentando o carbono orgânico do solo (COS). Aos 7 meses, o tratamento R40 (7,6 g kg- 1) se destacou em relação ao TT (1,7 g kg-1), e aos 15 meses, R40 (5,6 g kg-1) continuou superior aos tratamentos TT (2 g kg-1) e R10 (1,5g kg-1).
As doses de matéria orgânica de 20 e 40 t/ha (R20 e R40) aumentaram positivamente a altura do feijão guandu em ambos os períodos de amostragem. A produção de biomassa seca também foi melhor nos tratamentos com doses iguais ou superiores a 20 t/ha. Além de contribuir para a recuperação ambiental, esse processo evitou a emissão de mais de 2.137 toneladas de CO2, representando uma significativa redução da pegada de carbono da operação.
Esse modelo sustentável não só beneficia o meio ambiente, mas também trouxe uma economia considerável, com uma redução de custos de mais de R$ 1.332.305,89 que seriam direcionados à incineração. Esse impacto financeiro positivo reforça a viabilidade econômica da solução proposta, destacando sua eficiência tanto ambiental quanto financeira.
RESULTADOS
Os resíduos do refeitório se mostraram eficazes na formação de um tecnossolo adequado para o restabelecimento da vegetação. O Cajanus cajan se estabeleceu em todos os tratamentos, destacando-se as doses de 40 t/ha (R40) pela melhor produção de biomassa e as doses de 20 e 40 t/ha (R20 e R40) pelo maior crescimento da planta. A dose de 40 t/ha também apresentou efeitos positivos significativos na CTC e no carbono orgânico do solo. Dessa forma, conclui-se que a adição de matéria orgânica ao estéril é uma alternativa viável para a recuperação de áreas mineradas, sem a necessidade de uso de topsoil.
O desenvolvimento contínuo do projeto, iniciado com o estudo conduzido pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) em 2021, gerou uma dissertação de mestrado realizada por um funcionário da Mineração Paragominas. Em 2024, a EMBRAPA uniu-se ao projeto, oferecendo análise técnica e pareceres sobre a aplicação do Tecnossolo. Em 2025, a Mineração Paragominas firmou um contrato com o SENAI para análises físicas, químicas e biológicas do Tecnossolo, além de convidar a Universidade Federal do Pará (UFPA) para analisar o novo ecossistema em recuperação. Essas parcerias com quatro instituições de pesquisa reforçam a inovação e a aplicabilidade do projeto.
das, este projeto oferece benefícios adicionais, como a redução das emissões de gases de efeito estufa e a diminuição dos custos operacionais com incineração, adubação e outros insumos. O projeto também contribui com a produção científica, gerando conhecimento relevante para o campo da recuperação de áreas degradadas e para a sustentabilidade na mineração.





