WSchmidtFelsch Junior, Valdeis de Souza Oliveira, Guilherme Afonso Coutinho, Alexandro Afonso Pinto
A unidade Pires, que faz parte da CSN Mineração (Companhia Siderúrgica Nacional) está localizada na região do quadrilátero ferrífero, município de Ouro Preto (MG). Esta unidade possui movimentações de produto e ROM (minério de ferro), e utiliza um sistema de controle de tráfego para o gerenciamento da frota de equipamentos de mina.
Este sistema possui objetivo de maximizar a movimentação da frota, reduzir as perdas operacionais devido à parada de equipamentos e identificar motivos e oportunidades relacionadas à melhoria da produtividade e utilização da frota. A unidade conta com 130 caminhões rodoviários com capacidade de transporte de 30 t e 32 equipamentos de carga para a realização de suas atividades de carregamento e transporte, que é realizada em tempo integral (24 horas por dia).
O fluxo de abastecimento é essencial a este processo e pode gerar grandes perdas operacionais, quando não gerenciado de forma adequada. O abastecimento pode ser controlado com o auxilio de softwares especializados através de apontamentos e informações automatizadas. Este trabalho buscou apresentar a otimização do regime de abastecimento da frota de carga e transporte com a utilização do módulo de controle de abastecimento que integra o sistema de controle das frotas. Foi implantado um modelo de gestão integrada sob a responsabilidade dos técnicos que operam o sistema. Os objetivos principais foram o aumento do volume médio abastecido, a redução das filas no abastecimento e também o aumento da utilização efetiva da frota.
Desenvolvimento
O fluxo inicial de abastecimento observado na unidade Pires era realizado de acordo com a identificação da necessidade de abastecimento realizada pelos operadores dos equipamentos, ou seja, havia uma autonomia de abastecimento dedicada aos operadores.
De modo a identificar as condições do abastecimento na unidade, foi realizada uma análise de dados referentes à frota de transporte e verificado os seguintes fatores:
• Baixo volume de abastecimento por evento (média de 59% da capacidade do tanque);
• Alto índice de filas no posto de combustível em horários noturnos (conforme ilustrado na figura 1);
• Priorização de abastecimento de veículos leves em horários administrativos
Foi constatado que o fluxo manual de abastecimento efetuado pelos operadores originava ocasiões de deslocamentos desnecessários ao posto de combustível, seja por falta de informação aos operadores e também por outros motivos além da necessidade de abastecimento dos equipamentos. Foi identificada uma oportunidade de melhoria da utilização dos equipamentos, com a automatização do processo através do sistema de gerenciamento de frotas e com o controle efetivo do abastecimento realizado pelos técnicos responsáveis pelo sistema.
Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizado o módulo de abastecimento que integra o sistema de controle de frotas. Este módulo é configurado através da inserção do consumo médio de diesel (litros/hora) de cada equipamento, de acordo as informações do fabricante, modelo e histórico de consumo individual. O sistema calcula o próximo abastecimento dos equipamentos de acordo com o número de horas efetivas de operação e eventos de atrasos operacionais onde se consome combustível, e também o consumo específico (litros consumidos por hora trabalhada) configurados no sistema.
A informação do volume de óleo diesel que consta no tanque dos equipamentos pode ser acompanhada em tempo real pelos técnicos, desta forma foi criado um relatório online de acompanhamento do volume de combustível da frota, que pode ser visualizado na figura 2:
Foi estipulado entre as áreas de operação e manutenção de mina, que o ponto ótimo para início do abastecimento dos caminhões é 35% da capacidade total do tanque de combustível, ou seja, a partir deste valor os equipamentos começam a ser encaminhados para o posto de combustível via sala de controle de acordo com a distância ao posto e prioridades específicas. O ponto crítico foi estipulado em 15% da capacidade do tanque, neste caso o equipamento é enviado imediatamente ao posto para abastecimento. A figura 1 mostra os equipamentos que necessitam de abastecimento através do farol vermelho.
O novo procedimento de abastecimento funciona da seguinte maneira:
a) O equipamento é designado para abastecimento via sala de controle, de acordo com o volume informado pelo relatório de controle online e distância do posto;
b) O equipamento estaciona no posto e o operador desce do caminhão;
c) Realiza-se o abastecimento;
d) Após o abastecimento, as informações do horímetro (horas de operação do equipamento) e volume abastecido (litros) são informados pelo operador para a sala de controle via radio;
e) Atualização do status do equipamento no sistema de despacho.
O trabalho foi implantado a partir do mês de Julho de 2015. Foi implementado também um intervalo de abastecimento, que varia entre 260 e 330 litros (35% > X > 17,5%), como o alvo inicial de controle do volume de combustível abastecido.
A figura 3 mostra a capabilidade do abastecimento no mês anterior a implantação do trabalho (Junho/15). Pode-se verificar que 43% do número de abastecimentos estavam fora do limite estabelecido, sendo que 41% estavam abaixo do limite inferior estipulado.
Resultados
Após quatro meses de desenvolvimento do trabalho, foram verificados ganhos que mostraram um processo de melhoria contínua relacionado com o aumento do volume médio abastecido da frota de transporte e redução do desvio padrão entre as amostras dos abastecimentos.
A figura 4 mostra a evolução dos resultados, em período mensal, dos volumes médios e desvio padrão dos abastecimentos.
A capabilidade de abastecimento do mês de Outubro/15, ilustrada na figura 5, mostra uma redução
de 25% no número de abastecimentos fora do intervalo estipulado, comparado com a análise realizada no mês de Junho/15 (figura 2).
Foi identificada também uma maior ocorrência do número de abastecimentos devido ao abastecimento do aditivo ARLA 32*, onde os equipamentos abasteciam diesel e ARLA de forma independente. Foi padronizada uma sistemática de abastecimento conjunto, onde todo abastecimento de diesel, o ARLA também deveria ser completado.
(* ARLA é a abreviação de Agente Redutor Líquido de óxidos de nitrogênio Automotivo. O número 32 refere-se ao nível de concentração da solução de ureia (32,5%) em água desmineralizada. Atua nos sistemas de exaustão como agente redutor de emissões de óxidos de nitrogênio.)
Ganhos obtidos
• Aumento de 11,4 % (29 litros) no volume médio abastecido – frota de transporte;
• Redução de 10,3% no número de abastecimentos mensais por equipamento;
• Redução de 26,3% no número de horas dos equipamentos em fila no abastecimento (figura 6).
• Aumento de 0,61% na utilização efetiva da frota de transporte (equivalente a 206,5 horas mensais de operação);
• Redução de custo operacional médio mensal de R$ 101.600,00 e redução de R$508.000,00 no ano de 2015.
Discussão
Os resultados alcançados vieram a confirmar as premissas iniciais do trabalho: o fluxo manual de abastecimento efetuado pelos operadores originava ocasiões de deslocamentos desnecessários ao posto de combustível. Foi verificado que estes deslocamentos ocorriam por falta de informação e também por outros motivos além da necessidade de abastecimento dos equipamentos. O fluxo de abastecimento implementado pela lógica do sistema de controle de frotas reduziu o número de horas de fila no abastecimento e o número de abastecimentos realizados para cada equipamento, além de aumentar a utilização efetiva da frota.
Conclusão
Com a utilização do sistema de gestão de abastecimento online para o envio dos caminhões ao posto de combustível, foram constatadas melhorias operacionais com a redução dos tempos de fila no abastecimento e redução no número de abastecimentos realizados. Estas melhorias geraram um aumento de 206,5 horas mensais no número de horas de operação dos equipamentos de transporte, impactando em um aumento de 0,61% na utilização efetiva dos equipamentos. Este trabalho proporcionou uma redução de R$ 101.600,00 no valor do custo mensal da unidade Pires.
Autores:
WSchmidtFelsch Junior,
Valdeis de Souza Oliveira, Guilherme Afonso Coutinho
Alexandro Afonso Pinto