A China está prestes a aprovar a entrada de grandes estatais no projeto de minério de ferro de Simandou, na Guiné, considerado o maior depósito inexplorado da matéria-prima no mundo. A informação, revelada por fontes próximas ao processo, marca uma virada após anos de impasses legais e disputas geopolíticas.
A Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais da China, responsável pelas principais estatais do país, iniciou os preparativos para viabilizar o desenvolvimento do projeto, sinalizando a retomada definitiva das obras.
O que é o projeto Simandou?
Simandou é dividido em quatro blocos. Os blocos 1 e 2 estão sob controle de um consórcio financiado por empresas chinesas e de Cingapura. Já os blocos 3 e 4 são operados pela Rio Tinto e pela estatal Chinalco. A expectativa é iniciar a produção dentro de cinco anos.
Com minério de ferro com teor entre 65% e 66%, acima da média global de 62%, Simandou é considerado estratégico, especialmente diante da busca da China por matérias-primas de alta qualidade, visando reduzir emissões e aumentar a eficiência nas usinas siderúrgicas.
Impactos no mercado global
O retorno do projeto preocupa grandes mineradoras como Vale e Rio Tinto, pois Simandou pode ofertar mais de 100 milhões de toneladas anuais de minério premium. Isso acontece em um momento de estabilização da demanda chinesa e de queda nos preços da commodity, o que pode alterar o equilíbrio do mercado global.
Infraestrutura e financiamento bilionário
Um dos maiores desafios do projeto sempre foi a construção da ferrovia de 650 km ligando Simandou a portos na costa da Guiné, com custo estimado em US$ 13 bilhões. Com o envolvimento do Banco de Desenvolvimento da China e do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, o financiamento pode se concretizar.
Além da infraestrutura logística, o projeto prevê a construção de terminais portuários, envolvendo diversas estatais chinesas sob coordenação da Comissão de Supervisão.
Dilema da Rio Tinto
O avanço chinês em Simandou coloca a Rio Tinto diante de um dilema estratégico. Embora seja parceira em parte do projeto, a empresa pode ver o surgimento de um concorrente direto em seu principal mercado — o de minério de ferro de alta qualidade.
Com o aval chinês iminente, o projeto Simandou tem potencial para transformar o setor global de mineração, diversificando as fontes de suprimento e desafiando os atuais líderes do mercado. O Brasil, como grande exportador de minério, deve acompanhar de perto os desdobramentos.
