Tipos de Barragem de Rejeitos: como funcionam, diferenças e desafios para a mineração

Tipos de Barragem de Rejeitos: como funcionam, diferenças e desafios para a mineração

O que é uma barragem de rejeitos

As barragens de rejeitos são estruturas fundamentais para a gestão de resíduos da mineração, projetadas para armazenar rejeitos — materiais resultantes do processo de beneficiamento do minério, geralmente compostos por partículas finas, água e substâncias residuais.
Essas estruturas variam conforme a geologia, o tipo de minério e a tecnologia de beneficiamento, e exigem monitoramento contínuo e planos de segurança rigorosos para evitar rupturas e impactos ambientais.

De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil possui mais de 900 barragens de mineração cadastradas, sendo um dos países com maior complexidade técnica e regulatória na gestão dessas estruturas.


Principais tipos de barragem de rejeitos

A forma como uma barragem é construída e alteada (ou seja, aumentada em altura) define seu tipo. Existem três métodos principais: montante, jusante e linha de centro, além das tecnologias alternativas de disposição a seco.


Alteamento a Montante

O alteamento a montante é o método mais antigo e, historicamente, o mais econômico.
Nesse modelo, as sucessivas elevações da barragem são construídas sobre o próprio rejeito depositado anteriormente, com o material de contenção apoiado na massa do rejeito consolidado.

Características técnicas:

  • Custo de construção mais baixo.
  • Execução rápida.
  • Alta dependência da estabilidade dos rejeitos depositados.

Riscos e desvantagens:
Após os rompimentos de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) — ambos em barragens alteadas a montante — esse tipo de estrutura passou a ser proibido no Brasil (Lei nº 14.066/2020).
O principal risco é a liquefação dos rejeitos, que pode causar colapso estrutural.


Alteamento a Jusante

O alteamento a jusante é o método mais seguro e mais utilizado atualmente.
As novas elevações são construídas no sentido oposto ao reservatório, apoiando-se sobre o terreno natural ou material de fundação firme, e não sobre o rejeito.

Vantagens:

  • Maior estabilidade geotécnica.
  • Menor risco de liquefação.
  • Melhor controle de drenagem e percolação.

Desvantagens:

  • Maior custo de implantação.
  • Necessidade de área extensa para expansão da barragem.

Por oferecer maior segurança, esse tipo é o preferido nas novas barragens licenciadas pela ANM.


Alteamento pela Linha de Centro

O método pela linha de centro combina características dos dois anteriores.
As elevações subsequentes são feitas acima do eixo central da barragem inicial, equilibrando o material de construção entre a base natural e o rejeito depositado.

Benefícios:

  • Boa estabilidade geral.
  • Menor custo em comparação ao jusante.
  • Maior eficiência na ocupação de área.

Cuidados:
Embora mais seguro que o montante, esse tipo requer controle rigoroso da drenagem e compactação, para evitar instabilidades associadas à umidade dos rejeitos.


Disposição a Seco (Dry Stacking): a nova geração de barragens

A disposição a seco de rejeitos — ou dry stacking — é uma alternativa moderna e sustentável ao uso tradicional de barragens.
Nesse sistema, o rejeito passa por filtragem e desidratação, sendo empilhado em pilhas compactadas, reduzindo drasticamente o volume de água e, consequentemente, os riscos de ruptura.

Vantagens ambientais e operacionais:

  • Reduz o risco de acidentes geotécnicos.
  • Dispensa grandes reservatórios de água.
  • Facilita o reaproveitamento e reabilitação da área.
  • Atende às novas exigências da ANM e da política de mineração sustentável.

Desvantagens:

  • Custo de implantação e operação mais elevado.
  • Maior necessidade de manutenção e controle de poeira.

Hoje, mineradoras como Vale, Nexa Resources, Anglo American e Samarco já implementam tecnologias de filtragem e empilhamento a seco, alinhadas às melhores práticas ESG do setor.


Outras tecnologias e tendências

A indústria mineral está investindo em monitoramento remoto, sensores IoT e sistemas de alerta em tempo real para prevenir falhas e garantir o cumprimento da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB).

As novas tendências incluem:

  • Drones e satélites para inspeção topográfica contínua.
  • Modelagem 3D e simulações geotécnicas com IA.
  • Planos de descomissionamento para barragens inativas.

Essas ferramentas são fundamentais para garantir transparência, rastreabilidade e segurança em toda a cadeia da mineração.


Desafios e fiscalização

Mesmo com o avanço das tecnologias, o desafio da gestão de rejeitos permanece grande no Brasil.
A ANM reforça a necessidade de Planos de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM), além de auditorias independentes e relatórios de estabilidade periódicos.

O cumprimento das novas normas é essencial para recuperar a confiança do público e evitar tragédias ambientais.


O futuro das barragens é mais seguro e sustentável

O setor de mineração vive um novo ciclo de responsabilidade ambiental e inovação tecnológica.
Os tipos de barragem de rejeitos estão evoluindo para modelos mais seguros e sustentáveis, enquanto cresce o uso de disposição a seco e tecnologias digitais de monitoramento.

A mudança é inevitável e necessária: a mineração do futuro precisa ser eficiente, rastreável e ambientalmente responsável.


Fontes de referência:

  • Agência Nacional de Mineração (ANM) – www.gov.br/anm
  • International Council on Mining and Metals (ICMM) – Global Industry Standard on Tailings Management
  • Vale S.A. – Relatório de Sustentabilidade 2024
  • ABNT NBR 13.028 – Projeto e Construção de Barragens de Rejeitos