O que são terras raras e por que são tão valiosas
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos (como neodímio, lantânio e térbio) fundamentais para a fabricação de ímãs permanentes, motores elétricos, turbinas eólicas, baterias e equipamentos eletrônicos.
Apesar do nome, esses minerais não são exatamente raros — o desafio está em sua extração e separação, processos complexos e caros.
Com o avanço da transição energética e da indústria de alta tecnologia, a demanda global por terras raras cresce rapidamente, tornando o Brasil um dos países mais promissores fora da Ásia nesse mercado estratégico.
Onde ficam as principais reservas de terras raras no Brasil
O Brasil possui uma das maiores reservas potenciais do mundo, distribuídas em diversas regiões com características geológicas distintas.
A seguir, os principais polos de exploração e pesquisa:
1. Araxá (MG) – O berço das terras raras brasileiras
- Localizado no Triângulo Mineiro, o complexo de Araxá abriga uma das maiores jazidas de nióbio e terras raras do planeta.
- Operado pela CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) e em parte pela Mosaic Fertilizantes, o local contém monazita e bastnaesita, minerais ricos em elementos como cério, lantânio e neodímio.
- É o principal centro de pesquisa e extração experimental de terras raras no país.
2. Catalão (GO) – Potencial geológico elevado
- As jazidas de Catalão e Ouvidor, em Goiás, são conhecidas por depósitos de carbonatitos, que concentram nióbio, fosfato e terras raras.
- A CMOC Brasil (China Molybdenum Co.) mantém projetos de estudo e recuperação de terras raras associadas à mineração de nióbio.
- As reservas são estimadas em centenas de milhares de toneladas de óxidos de terras raras, ainda pouco exploradas comercialmente.
3. Serra dos Carajás (PA) – Riqueza mineral integrada
- Região dominada pela Vale, Carajás é conhecida pelo minério de ferro, mas estudos do Serviço Geológico do Brasil (SGB) identificam concentrações de terras raras associadas a rochas alcalinas e lateritas.
- As pesquisas estão em fase preliminar, mas podem tornar o Pará um polo futuro da cadeia de terras raras.
4. Pitinga (AM) – Jazidas associadas ao estanho
- A mina de Pitinga, operada pela Taboca (Grupo Minsur), no Amazonas, contém depósitos de cassiterita e columbita, que concentram lantânio, cério e ítrio.
- O potencial é elevado, e estudos indicam que a região pode abrigar uma das maiores reservas da Amazônia.
5. Poços de Caldas (MG) e Prado (BA) – Novos projetos em análise
- Em Poços de Caldas, empresas como a Serra Verde Pesquisa e Mineração e startups de tecnologia mineral realizam prospecções voltadas à extração sustentável de terras raras.
- Já em Prado (BA), estudos recentes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) identificaram depósitos promissores de neodímio e praseodímio em rochas alcalinas.
Empresas e projetos ativos
Nos últimos cinco anos, novas companhias e joint ventures começaram a transformar o potencial brasileiro em produção comercial de terras raras:
- Serra Verde (GO): primeiro projeto de terras raras em escala comercial da América Latina.
- Localização: Mina de Minaçu (GO).
- Início de operação: 2024.
- Capacidade estimada: 5 mil toneladas/ano de óxidos de terras raras.
- CBMM (Araxá/MG): desenvolve tecnologias para recuperação de terras raras do rejeito de nióbio, com apoio da Embrapii e da USP.
- Vale (PA e MG): pesquisa aproveitamento de subprodutos ricos em terras raras nas operações de ferro e níquel.
Desafios e oportunidades
O Brasil tem abundância geológica, mas enfrenta barreiras estruturais para competir com países como China, Austrália e EUA:
- Falta de infraestrutura de separação e refino químico.
- Escassez de investimento privado em plantas piloto.
- Necessidade de regulação ambiental específica para exploração de elementos críticos.
Por outro lado, o país possui vantagens estratégicas:
- Matriz energética limpa, com potencial de produção de terras raras sustentáveis.
- Diversificação mineral: terras raras associadas ao nióbio, fosfato e estanho.
- Interesse crescente de empresas internacionais e fundos de inovação.
O futuro das terras raras brasileiras
Com a demanda global crescente e o incentivo a cadeias de suprimento fora da Ásia, o Brasil tem condições de se tornar um player relevante na próxima década.
A consolidação de projetos como Serra Verde e CBMM indica um novo ciclo de investimentos, combinando alta tecnologia, ESG e agregação de valor mineral.
As terras raras no Brasil estão distribuídas principalmente em Minas Gerais, Goiás, Pará e Amazonas, com destaque para Araxá e Catalão.
O país possui potencial geológico comparável ao dos grandes produtores mundiais, mas ainda precisa avançar em tecnologia de processamento e políticas de incentivo à industrialização.
O desafio é transformar esse potencial em uma cadeia produtiva nacional, capaz de fornecer insumos críticos para a transição energética e a soberania tecnológica brasileira.

