A utilização de substratos alternativos na produção de matéria orgânica para melhoria da qualidade do solo, que gera efeitos positivos sobre o ambiente, abrangendo desde o sequestro de carbono até a recuperação de áreas degradadas, tem sido crescente na Mina Cana Brava. O objetivo do trabalho foi desenvolver uma fonte de matéria orgânica para produção de composto oriundo de resíduos de grama, folhas e poda de árvores que pudesse ser utilizado como insumo para a melhoria da qualidade dos solos que recobrem as pilhas de estéril. O trabalho mostrou que a incorporação deste material aumentou a fertilidade dos solos e diminuiu os custos de recuperação, tornou possível a reciclagem deste material e a redução do impacto desses resíduos no ambiente. O trabalho teve início com a coleta do material oriundo da poda e jardinagens da vila residencial da empresa, seguido da adequação em leiras, trituração e manejo para a compostagem. Os resultados demonstram que o composto obtido por este processo apresenta características favoráveis, tornando possível seu uso na composição de substratos para a utilização sobre o solo de cobertura das pilhas de estéril. A contribuição da matéria orgânica no solo para o desenvolvimento de qualquer espécie é de grande valia, pois altera fatores físicos, químicos e biológicos.
Muitas dificuldades foram encontradas no solo disponível para o recobrimento das pilhas de estéril e rejeito da Mina de Cana Brava. Entre elas, a baixa fertilidade e pouca concentração de fósforo (P), fatores
limitantes para a germinação e estabelecimento da forragem e sua permanência nos ciclos fisiológicos, como desenvolvimento radicular, produção e germinação de sementes adaptadas às características físico/
químicas encontradas no solo.
A arborização de praças, canteiros e pomares gera uma grande quantidade de resíduos devido à poda e corte. Estes resíduos acabam sendo depositados em aterros sanitários e lixões. Segundo Bellé & Kämpf
(1993), a camada superficial de matéria orgânica, geralmente presente em solos florestais, porém em menor percentagem em relação ao amplo volume de solo, possibilita o desenvolvimento da microflora e fauna, sendo a principal fonte de energia correspondente a um reservatório de nutrientes para o crescimento dos vegetais e disponibilizando um maior volume de água e ar em função da maior porosidade.
A degradação da matéria orgânica pela atividade microbiana melhora as propriedades químicas pela formação de húmus no solo e as propriedades físicas, tais como: estruturação, porosidade, retenção de água, aquecimento do solo (devido a coloração escura da matéria orgânica) e, entre outros, a proteção do solo. Porém, solos na ausência de florestas têm o teor de matéria orgânica reduzido, comprometendo a sustentabilidade e os efeitos benéficos da existência desse resíduo. Quando esse sistema é interrompido, a adição de matéria orgânica é comprometida e as propriedades do solo alteradas.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver um composto orgânico que pudesse ser utilizado na recuperação de áreas degradadas da Mina Cana Brava, alterando algumas propriedades físicas e químicas do solo, quando submetido ao sistema convencional de preparo e plantio.
A Mina de Cana Brava localiza-se no Estado de Goiás, cidade de Minaçu, a 540 km de Goiânia e a 1.460 km de São Paulo, onde mantém escritório para atividades administrativas e comerciais.
MATERIAIS E MÉTODOS
processo de tratamento dos resíduos vegetais segue a norma técnica RAD 01 desenvolvida internamente pela empresa e a consultoria. Esta norma dita as diretrizes para o enleiramento dos diferentes tipos de material, sua trituração, umidificação e adição de adubos.
Para o recebimento e tratamento dos resíduos, foi criada uma área na Mina denominada Pátio de Compostagem. Neste local, os diferentes tipos de matéria orgânica, gramíneas, folhas, galhos e restos de podas são conformados em canteiros enleirados, com dimensões médias de 10 a 12 metros de largura e de 50 a 80 metros de comprimento.
A preparação do composto segue as seguintes etapas:
1°: Deposição dos resíduos vegetais nas diferentes áreas do pátio de compostagem.
2°: Conformação dos resíduos em leiras.
3: Adequação do material em leiras
4°: Readequação e conformação das leiras após o pisoteamento.
5°: Umidificação das leiras 2 vezes por dia, durante 15 dias.
6°: Nova etapa de pisoteamento.
7°: Tombamento das leiras para direita e esquerda, visando homogeneizar o material.
8°: Avaliação técnica da textura do material.
9°: De acordo com a avaliação da textura do material, não sendo necessário novo pisoteamento, é então realizada a aplicação de 200 Kg de fertilizante NPK 20 0 20 ou NPK 25 0 25 por leira.
10°: Para garantir melhor reação entre o fertilizante e o material, as leiras passam novamente por umidificação durante uma semana.
11°: Concluída a umidificação, o material é enlonado por 3 semanas.
12°: Retirada da lona e aplicação de 1000 Kg de fosfato decantado na superfície de cada leira.
13°: Avaliação técnica do composto e nova homogeneização por tombamento.
14°: Direcionamento do composto para os taludes das bancas de disposição.
INCORPORAÇÃO DO COMPOSTO ORGÂNICO NAS PILHAS
Para a distribuição do composto orgânico foram selecionados taludes da pilha de estéril B. Os taludes escolhidos foram os mais expostos à comunidade, visando, desta forma, o alcance da cobertura vegetal, minimizar o impacto visual causado. Os taludes que receberam o composto foram 480 e 490 na região leste da pilha B (voltados para a cidade) e os taludes 450, 460, 470 e 480, região sul pilha (voltados para a GO241), totalizando aproximadamente 10,927 hectares.
Para o carregamento e transporte do composto até as bancas de destino da pilha B, utilizou-se os equipamentos pertencentes à operação da Mina. A operação baseou-se em depositar o composto na crista dos taludes e distribuí-lo até meia altura. Em seguida, para a melhor distribuição e homogeneização, utilizou-se de um implemento desenvolvido internamente, denominado coveador. O coveador desempenhou papel fundamental no processo, incorporando o composto orgânico ao solo da superfície inclinada dos taludes, ocasionando também
um melhoramento nos fatores físicos e químicos do terreno para receber o plantio de forrageiras.
O transporte do composto para a execução da Recuperação em 2016 totalizou 50 viagens de caminhões do material. Cada caminhão transportou cerca de 25,5 toneladas, perfazendo o transporte de 1.275 toneladas que foram anotados e pesados pela balança rodoviária do Departamento de Extração da empresa.
A equação utilizada para o cálculo das quantidades totais foi:
Nº de viagens X Toneladas por caminhão = Quantidade
total de composto 50 X 25 = 1.2750 toneladas
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A ideia do desenvolvimento de um composto orgânico surgiu pela necessidade de promover a melhoria da qualidade do solo utilizado na cobertura das pilhas, através do aproveitamento de resíduos de jardinagem que seriam descartados. Sua incorporação propiciou maior aeração do solo e revolvimento do mesmo, obtendo assim aumento considerável nas ações físico/químicas pela adição de carbono e mudanças nos aspectos biológicos que refletiram em maior produtividade das áreas plantadas.
Os dados do gráfico 1 retratam uma diferença significativa na disponibilidade de matéria orgânica entre uma área que não recebeu o composto orgânico e as áreas que receberam. A banca 450, que não recebeu o composto, tinha inicialmente a concentração de matéria orgânica de 0,5 mg/dm3 antes do plantio e passou a ter 1,2 mg/dm3 após o plantio. Já as bancas 460, 470, 480 sul e 480 leste que receberam o composto tiveram um ganho expressivo na concentração de matéria orgânica, passando de 0,4 mg/dm3 antes do plantio para 5,7 mg/dm3 após plantio.