Redução de consumo específico de bolas na moagem

O consumo específico de corpos moedores está inadequado nos moinhos, sobretudo no moinho 01 (moinho de menor tamanho), na planta da Jacobina (BA), da Yamana Gold. Além de sistemática de controle mais efetiva, é necessária uma avaliação da qualidade do corpo moedor adquirido pela JMC, no que tange a sua composição química e tratamento térmico.

Corpos moedores com elevado teor de carbono (em torno de 1,00%) e baixo teor de silício (menor do que 0,17%) são os mais adequados a formarem estrutura cristalina compacta e resistente, sendo esta a principal referência de qualidade indicadora na compra de um corpo moedor de bom desempenho quanto ao seu desgaste.

A cobrança por parte da operação por um corpo moedor de características adequadas, além do resgate e implementação de ferramentas de controle, que propiciem a dosagem de bolas de maneira correta e controlada (sem desperdício), são as diretrizes para a redução do consumo específico de corpos moedores, sem interferências na qualidade do processo de moagem (granulometria e produtividade).

Como resolver o problema?
As análises de correlação e regressão entre os indicadores de KPI (consumo específico de bolas; custo unitário de bolas por tonelada de minério processado e preço unitário de bolas) indicam que o controle operacional do consumo específico colabora para a redução de gastos com corpos moedores na planta.

As análises de correlação também sugerem que a qualidade da moagem, tanto em termos de produtividade como de granulometria (tamanho das partículas do produto), não está diretamente correlacionada com o excesso de dosagem de corpos moedores nos moinhos.

A aquisição de corpos moedores para a planta deve ser realizada de modo que a operação tenha conhecimento com relação à qualidade do corpo moedor a ser adquirido, sobretudo no que tange a composição química e características físicas da bola a ser comprada (dureza superficial e do centro, por exemplo), não sendo apenas levado em conta os preços do corpo moedor.

Medidas operacionais de controle imediatas são necessárias para evitar a oscilação do consumo específico de corpos moedores, evitando-se a dosagem desnecessária do insumo e picos elevados de consumo.

Efeito das mudanças: análise entre abril e maio de 2017
Algumas ações foram tomadas e seus resultados acompanhados. A principal delas foi a inserção de bolas com uma liga experimental no moinho 01 (cerca de 150 toneladas) durante o mês de maio.

As bolas da nova liga possuem um percentual de carbono entre 0,75 e 0,80% (superior à liga antiga, que estava em torno de 0,6%).
Inserção de bolas da nova liga (menor diâmetro) no colar de bolas do moinho 02 (cerca de 20%). Apesar do menor tamanho das bolas (2 polegadas), espera-se que com a sua introdução controlada e em uma proporção especificada, o consumo não saia da meta.

Os dados de granulometria (P-80) e de potência dos moinhos foram monitorados e analisados para os meses do estudo de caso.

As ações tomadas estão listadas abaixo:
– Inserção de bolas de nova liga (Liga teste B2 3”) de maneira sistemática no moinho 01.Inserção de bolas de 2” (Liga B2) no moinho 02 de maneira sistemática, em uma proporção de 20% aproximadamente.
– Controle mais rígido e acompanhamento diário mais incisivo do indicador, além do monitoramento de gargalos para posterior tratativa.
– Os resultados obtidos foram comparados com o mês de abril.
– O ajuste do consumo do moinho 01 contribuiu diretamente para a redução do consumo de bolas no mês de maio.
– Houve redução também no consumo de bolas do moinho 02 para o mês de maio.
– A liga de teste comprovou uma melhora em relação à antiga, confirmando a premissa de que o teor de carbono influencia diretamente no desempenho do corpo moedor quanto ao desgaste.
– O controle sistêmico da reposição de bolas (planilhas de acompanhamento e registro, conferência e contagem semanal do insumo etc.) proporcionou uma redução do consumo de bolas no moinho 02.
– A redução do consumo atingida no mês de maio não surtiu efeito na granulometria (P-80) dos moinhos.
– A potência dos moinhos obteve uma redução em sua oscilação (diminuição do desvio padrão).
Para a definição e medição dos ganhos, as seguintes premissas foram consideradas:
– Os preços executados foram extraídos dos dados de KPI da empresa, assim como os valores de massa processada de minério para cada mês.
– O valor médio de consumo específico de bolas, em kg/t, realizado antes do projeto foi considerado igual a 1,89. Este valor é o mesmo se considerar as análises desde janeiro de 2016 como abril de 2017.
– O saving gerado resulta-se, deste modo, pela diferença entres os valores de consumo específico realizados a cada mês após o projeto e o valor de referência executado anteriormente ao início do projeto, multiplicando-se essa diferença pela massa processada do mês e o preço unitário do insumo.

Após sete meses de projeto, o saving estimado é de US$ 143.156, sendo este muito aderente com o esperado no início do projeto (cerca de US$ 143.456 após sete meses de implantação).

O que fazer para manter o indicador sob controle?
O processo de compra de bolas após o projeto ganhou uma grande influência operacional. A análise de custo/benefício ganho força com o maior conhecimento da operação em relação à qualidade do corpo moedor requerida para o processo. Esse conhecimento foi de vital importância para o levantamento das performances dos fornecedores, promovendo assim uma impulsão pela melhoria contínua pelo produto fornecido.

O resgate de algumas ferramentas de controle da operação, além de treinamentos e instrução da operação na atividade de reposição de bolas promoveu diretamente a redução do consumo específico de corpos moedores, sendo os valores conferidos e avaliados diariamente.

Apesar de o projeto não ter modificado o mapa de processo (SIPOC) para a atividade de reposição, ainda há espaço para melhoria no processo e consequente avaliação de oportunidade de ganhos nesse sentido.
Autor: João Antônio Salles Carneiro, engenheiro de processos – Yamana Gold