Com investimento de R$ 555 milhões, a implantação da mina está com 45% das obras finalizadas
Com início do comissionamento previsto para o dia 9 novembro deste ano e produção estimada em 5,1 mil t/ano de vanádio, a Vanádio de Maracás realizou no último dia 21 de fevereiro o lançamento da sua pedra fundamental, no município de Maracás a 365 km de Salvador (BA). Classificando o depósito como a melhor mina de vanádio do mundo, Kurt Menchen, diretor-executivo da empresa, explicou durante a cerimônia que a combinação de alto teor do minério e baixo nível de contaminação resulta em um custo de produção reduzido e consequentemente elevada competitividade. “Se acontecer uma crise mundial de vanádio, a mina de Maracás será a única operação que funcionará normalmente. Teremos inicialmente 8% da produção mundial do metal”, afirmou.
O evento contou também com a presença do CEO da Largo Resources (sócia majoritária da empresa), Mark Brennan; do governador da Bahia, Jaques Wagner; do secretário da Indústria e Comércio da Bahia, James Correia; do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo e do prefeito de Maracás, Paulo dos Anjos.
O governador contextualizou o investimento de R$ 555 milhões – dividido entre acionistas da Largo Resources e um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) – da Vanádio de Maracás no atual cenário da mineração baiana, afirmando que cerca de R$ 5 bilhões foram atraídos para o estado nos últimos anos e também ressaltou a importância de se refazer o Marco Regulatório da Mineração. “É uma alegria inaugurar mais um negócio como esse no Estado. Agora que se iniciem a prática da responsabilidade social e da parceria com o município”, concluiu. Em 2006, a Largo Resources assumiu o projeto com a CBPM como sócia minoritária, entretanto, mantendo o royalty de 3% sobre a produção de qualquer commoditie extraído da mina.
O investimento do projeto, que se enquadra na categoria greenfield, é um dos primeiros fechados no Brasil na modalidade project finance non-recourse, que não possui apresentação de garantias pelos acionistas ou donos. Desse financiamento de longo prazo, contratado junto ao BNDES, no montante de R$ 333 milhões, participaram o Banco Itaú BBA, líder da transação, o Bradesco e o Banco Votorantim, como garantidores e responsáveis tanto pela estruturação do financiamento quanto do “empréstimo-ponte” de R$ 56 milhões à empresa Vanádio de Maracás. Adicionalmente, o Itaú BBA coordenou o levantamento de recursos junto a investidores internacionais, compondo a parcela de equity do projeto, no valor de R$ 118 milhões.
O projeto também foi considerado o negócio de mineração do ano da América Latina ao conquistar o prêmio Project Finance Deal of the Year, categoria Latin American Mining Deal of the Year, concedido pela Euromoney no início do mês de março em Nova Iorque.
A operação coloca o Brasil na posição de exportador do minério, que é usado em aços de alta tecnologia. Atualmente, toda a demanda nacional é atendida via importação, mas com o início da operação da mina, o mercado brasileiro contará com um excedente anual de 3,9 mil t. A expectativa é que a exploração da mina dê retorno em dois anos, com produção anual que deve movimentar mais de R$ 300 milhões.
A mineradora vai colocar Maracás no mapa de produção mundial de vanádio como o local de exploração com maior teor do minério e menor custo de produção. Para Menchen, essas condicionantes acabarão por atrair outros players estratégicos deste mercado para o Brasil e especialmente para a Bahia. A empresa vai gerar também cerca de 1.200 empregos diretos e 8000 vagas indiretas no pico das obras de implantação, priorizando a mão de obra local. Quando entrar em operação, 400 empregos diretos serão criados, com cerca de 3000 oportunidades indiretas.
Produção já foi vendida
O minério movimenta cerca de US$ 2,3 bilhões a cada ano, tendo o Japão, Estados Unidos, Europa Ocidental e Coréia como maiores consumidores. Com sua produção dos primeiros seis anos já comercializada, a Vanádio de Maracás já tem planos de expansão. Novos investimentos devem ser realizados em 2015, aumentando a produção para 7,5 mil t de pentóxido de vanádio (V2O5). No ano seguinte, a mineradora deve começar a processar também o ferro-liga de vanádio, que tem preço de comercialização maior, perfazendo os dois produtos finais.
O vanádio é utilizado em ligas metálicas de alta resistência (em aço e alumínio). Na maioria das vezes, o metal é misturado com o ferro ou alumínio, com o objetivo de aumentar a resistência e reduzir o peso. O vanádio é insumo essencial na construção civil, nas indústrias aeroespacial e aeronáutica, gás e óleo, em superestruturas de pontes, túneis, ferrovias, e em instrumentos cirúrgicos, entre outros, propiciando resistência e leveza.
Implantação e equipamentos
Com 45% das obras finalizadas no final do mês de janeiro e concluindo a engenharia de detalhamento, a área de implantação do projeto tem aproximadamente 100 mil m², que comporta a mina e a usina de beneficiamento. “A área total do empreendimento possui cerca e 250 hectares e reservas legais que não podem ser acessadas”, aponta o gerente de projeto da Largo Resources, Douglas Herbst, que faz parte do projeto desde 2011.
Entre os principais desafios da implantação, de acordo com Herbst, estão as questões com licenças ambientais e o curto tempo para reali
zação das metas do projeto. “Temos um programa bastante rígido para atender os requisitos impostos da área ambiental e a engenharia do projeto estudou muito bem a data prevista para o início do comissionamento, que pode levar 15 dias ou mesmo de um a dois meses. Vai depender muito do sucesso da qualidade da montagem”, explicou.
As montagens estão em fase de expansão final, concluindo os suportes de tubulações, tanques, tratamento de água. Os equipamentos, que em sua maioria já foram adquiridos, começarão a chegar a partir de março e abril. Entre os principais, estão moinhos, forno calcinador, bombas de polpa, subestações, cristalizador, britadores, estruturas metálicas, correias transportadoras, evaporador, secador e tanques, de fornecedores nacionais, como Weir Minerals, Alufer, WEG, MDE e internacionais, como a FLSmidth (Estados Unidos) e PPTTECH (África do Sul), entre outros. Somente em equipamentos, os investimentos chegam a R$140 milhões. A máquina de maior destaque na operação será o calcinador, da fabricante FLSmidth, que possui 110 m de comprimento e 4 m de diâmetro. “Em equipamentos isolados, temos mais de 300. Mas realizamos compras de grandes equipamentos em aproximadamente 40 pacotes que agregam diversos outros. Faltam ainda adquirir alguns equipamentos secundários, como pequenas bombas, equipamentos de tanque, entre outros, que está sendo finalizado pela Promon Engenharia”, pontuou o gerente. A Promon foi contratada na modalidade EPCM (Engineering, Procurement and Construction Management) para executar o projeto básico, projeto de detalhamento, serviços de suprimentos, diligenciamento, inspeção e gerenciamento da obra, e apoio ao comissionamento e operação assistida na implantação da planta.
Atualmente, a implantação está voltada também para a montagem eletromecânica, que engloba a construção e montagem de todos os componentes principais da planta de processo. Outra obra em fase de construção é a tubulação que irá fornecer água para o projeto, que está com aproximadamente 90% concluído. Haverá também fornecimento temporário de água por poços desenvolvidos pela mineradora, com fim de proporcionar um fluxo adequado de água.
“O processo de implantação é do projeto é domínio público e sem grandes entraves. Devida a alta qualidade do minério, o procedimento se torna até mais simples, por isso é eficiente e de baixo custo. O que torna o projeto diferente são as tecnologias novas que surgiram, uma vez que as últimas plantas de vanádio foram construídas há 20 ou 30 anos. De lá pra cá, temos novas tecnologias de controle de processos e automação”, destacou Kurt Menchen.
Produção
Atualmente, o principal polo de extração de vanádio é a África do Sul, que detém cerca de 35% da produção mundial. Assim que a primeira mina de vanádio das Américas iniciar a produção de 5,1 mil t/ano, terá 8% da fatia mundial e grandes expectativa de crescimento. “A partir de 2015, vamos expandir em 50% a produção e, já em 2016, produziremos também o ferro-liga de vanádio. Por sermos competitivos e com minério de melhor qualidade, vamos nos posicionar estrategicamente nesse mercado”, analisou Menchen.
De acordo com o executivo, a segunda melhor reserva de vanádio do mundo, que fica na África do Sul, tem apenas metade do teor de minério encontrado em Maracás. A mina baiana terá o mais puro vanádio que se encontra na indústria e vida útil em torno de 30 anos, com nos dados de recursos de reserva analisados dentro da classificação canadense.