Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda por minerais críticos no ano passado foi de US$ 230 bilhões e, até 2030, deve chegar a US$ 1 trilhão. Os materiais e equipamentos exigidos pela transição energética, das baterias recarregáveis dos carros elétricos aos aerogeradores dos parques eólicos e fotovoltaicos estão impulsionando essa procura, que cresce a taxas exponenciais.
De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil tem a terceira maior reserva de terras raras de todo o mundo, com 21 milhões de toneladas, ao lado da Rússia. A projeção, conforme nota da Agência enviada à revista Minérios & Minerales, é que o país pode se tornar um dos cinco maiores produtores do mundo nos próximos anos, tendo como base o avanço de diversos projetos no País.
Um desses destaques é para a enorme potencialidade das argilas iônicas contendo terras raras, atraindo diversas empresas, cujos resultados inicialmente divulgados alavancam ainda mais as projeções de crescimento desse setor no País. Exemplo desse caso é o primeiro complexo industrial de terras raras a partir de argilas iônicas no Brasil, operado pela Mineração Serra Verde, em Goiás.
Única produtora em escala fora da Ásia dos quatro elementos críticos de terras raras (“ETRs”) – neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy) – essenciais para as ímãs permanentes na fabricação de motores e veículos elétricos, turbinas eólicas, aparelhos de ar-condicionado e outras aplicações, a Mineração Serra Verde começou sua produção comercial no início de 2024 em seu depósito de Pela Ema, em Minaçu (GO) e já estuda dobrar sua capacidade bruta antes de 2030.
Com capacidade inicial de 5.000 toneladas de óxidos de terras raras por ano, a mineradora trabalha para aumentar a Fase I por meio da otimização da planta e eliminação de gargalos, e está avaliando o potencial de uma expansão da Fase II para dobrar sua capacidade.
Em outubro deste ano, sua unidade operacional Serra Verde Pesquisa e Mineração (SVPM) foi incluída na lista de projetos da Minerals Security Partnership (MSP). A MSP é uma colaboração de 14 países parceiros e da União Europeia, atualmente presidida pela Coreia do Sul, que visa acelerar o desenvolvimento de cadeias de suprimento de minerais de energia críticos, diversificadas e sustentáveis.
Além disso, o Energy and Minerals Group e a Vision Blue Resources lideraram um investimento no valor de US$ 150 milhões na Serra Verde, com a participação do investidor fundador, Denham Capital, para viabilizar iniciativas visando a eliminar gargalos no fluxograma de produção, proporcionar melhorias operacionais e avançar no crescimento a longo prazo.
A primeira operação de terras raras no País
Durante a EXPOSIBRAM 2024 – Mineração do Brasil | Expo & Congresso, realizado em setembro, em Belo Horizonte, Pedro Burnier, diretor de ESG, Estratégia e Assuntos Corporativos da Serra Verde, apresentou um panorama sobre a atuação da empresa, destacando sua relevância no setor de minerais críticos e estratégicos: a Serra Verde é a primeira produção comercial de elementos de terras raras no Brasil.
Segundo o Fraser Institute (2023), o País é reconhecido como a jurisdição mais atraente da América Latina para investimentos em mineração. Os elementos magnéticos mais utilizados, como neodímio (Nd), disprósio (Dy), térbio (Tb) e praseodímio (Pr), têm um papel crucial na manutenção do desempenho de ímãs a altas temperaturas, particularmente os ímãs de neodímio-ferro-boro (NdFeB).
No painel “Apresentação de projetos de minerais críticos e estratégicos do Brasil”, Burnier explicou, por exemplo, que um único motor de veículo elétrico utiliza mais de 1 kg de ETRs, enquanto turbinas eólicas de 3 MW demandam 2 toneladas desses elementos. A produção global desses minerais é dominada pela Ásia, que representa 90% do mercado, ressaltando a importância de novos players como a Serra Verde para a diversificação da oferta.
De acordo com o diretor, a Serra Verde possui o maior depósito de terras raras de argila iônica fora da China, cuja produção é notavelmente mais sustentável em comparação aos métodos convencionais. “Nosso método de extração dispensa o uso de detonação, britagem ou moagem, o que diminui significativamente o impacto ambiental”, afirmou Burnier.
Outro aspecto ressaltado é o compromisso com a comunidade local. Segundo Burnier, mais de 90% dos habitantes de Minaçu (GO) apoiam o projeto. A empresa também investe em programas de biodiversidade e reflorestamento, com um viveiro de espécies locais para restaurar o ecossistema da região e outras iniciativas sustentáveis. “Estamos localizados de posição estratégica, o que permite um transporte eficiente dos nossos produtos e contamos com eletricidade proveniente da rede local, em grande parte fornecida por fontes renováveis, além de utilizarmos energia solar para o aquecimento de água nas instalações da mina e da planta”, ressaltou Pedro Burnier.
Sobre a unidade ter sido incluída na lista de projetos da Minerals Security Partnership, o CEO da Serra Verde, Thras Moraitis, ressaltou: “Este anúncio é um forte aval do papel significativo que a Serra Verde pode desempenhar no estabelecimento de cadeias de fornecimento de terras raras essenciais para a transição energética global. A coordenação federal, estadual e internacional sobre a importância das operações de minerais críticos atuais e futuras é fundamental para garantir que essas operações alcancem a escala necessária para competir com sucesso e acelerar o desenvolvimento de nossa indústria. Temos planos ambiciosos para investir e expandir nossa operação, e o investimento adicional de nossos acionistas nos permitirá continuar entregando essas iniciativas”.
Minerais críticos
Brasil precisa escolher dominar a cadeia de produção—e não apenas fornecer concentrados
Essenciais para a eletrificação do transporte, tecnologias e expansão de energias renováveis, os minerais críticos se tornaram, para alguns países, como China e Estados Unidos, materiais estratégicos para a segurança econômica e militar, com forte componente geopolítico. Nesse contexto, o Brasil ganha visibilidade, pois, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o território nacional tem ampla potencialidade para nióbio, lítio, terras raras, níquel, cobre, grafita, entre outros, tornando o país um alvo potencial para investimentos globais.
Dentre as diversas projeções para esses minerais, a ANM destacou o relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), que diz que a demanda por lítio, por exemplo, deve crescer em até 42 vezes até 2040, na comparação com a de 2020. A de grafita deve ser até 25 vezes maior, e a de cobalto deve se multiplicar até 21 vezes.
Outra estimativa, desta vez da consultoria McKinsey, diz que a transição energética, incluindo a exploração dos “metais verdes”, pode gerar investimentos potenciais de até US$ 125 bilhões ao Brasil.
Sendo assim, é nítido que a transição energética sinaliza um novo ciclo de oportunidades potenciais para a mineração brasileira, em termos de vultosos novos investimentos, o que exige políticas públicas bem definidas e práticas de execução eficientes.
Sobre a legislação para essa área, a ANM lembrou em nota à revista Minérios & Minerales, que o Plano Nacional de Mineração 2030 estabelece diretrizes para o setor mineral, considerando também os minerais críticos. Além disso, a Agência destacou o Projeto de Lei (PL) nº 2.780 de 2024, de autoria do Deputado Zé Silva, em tramitação na Câmara dos Deputados desde julho de 2024, que objetiva instituir a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos e o Comitê Nacional de Política Mineral, buscando estabelecer diretrizes necessárias para fomentar a pesquisa, a lavra e a transformação de minerais críticos e estratégicos de forma sustentável.
Não obstante, além da regulamentação, a Agência ressaltou que o país ainda possui outros obstáculos, tais como os culturais, ambientais, sociais — e até mesmo históricos. “Entre eles, caberá ao país escolher entre seguir o caminho de grande exportador de minério bruto para países industrializados, ou aproveitar a transição energética e suas reservas minerais para também desenvolver localmente sua indústria verde, dominando a cadeia produtiva. A primeira opção é o caminho mais rápido e fácil para monetizar as riquezas naturais e gerar crescimento econômico em curto prazo. Já a segunda opção se mostra mais atraente, no longo prazo, tendo em vista a possibilidade da verticalização da cadeia produtiva e o alcance da soberania na produção dos componentes necessários à transição da matriz energética, colocando o país na vanguarda da economia verde”, enfatizou o comunicado da ANM à revista Minérios.
Regiões brasileiras com potencial para minerais estratégicos
Segundo a ANM, o potencial de Elementos Terras Raras – ETR (e demais minerais críticos e estratégicos) no Brasil vem sendo continuamente avaliado com apoio dos órgãos vinculados ao Ministério de Minas e Energia (ANM, CETEM, SGB e MCTI, dentre outros).
Dados fornecidos pela Superintendência de Regulação Econômica e Governança Regulatória da ANM[J1] mostram as regiões brasileiras com esse potencial, conforme figura a seguir:

Potencialidade Terras Raras (ETR), com base em dados de 2013, conforme figura:
- Araxá – Mosaic (MG)
- Araxá – Saint George – antiga MBAC Terras Raras (MG)
- EnergyFuels (Monazita) (BA)
- Pitinga – MINSUR (Presidente Figueiredo/AM)
- Foxfire – Vale do Lítio -Lítio/ETR (MG)
- Morro do Ferro – MTR Mineração (Poços de Caldas/MG)
- Catalão – Mosaic (GO)
- Catalão – CMOC (GO)
- Jacupiranga (SP)
- Tapira- Mosaic (MG)
- Serra Negra (MG)
- Salitre (MG)
- Maicuru (PA)
- Peixe (TO)
- Seis Lagos (AM)
- Mato Preto (PR)
- Juquiá e Jacupiranga (SP)
- Barra do Itapirapuã (SP)
- Araxá- Rejeitos CBMM (MG)
ARGILAS IÔNICAS
Sobre as argilas iônicas, a ANM destacou projetos que se encontram na fase de pesquisa mineral, mas apresentam resultados iniciais positivos:
AMAZONAS
- Brazilian Critical Minerals – Projeto Apuí ENE e Projeto Ema
BAHIA
- Brazilian Rare Earths Província Mineral Rocha da Rocha – Projeto Monte Alto (monazita e argilas iônicas)
- Brazilian Rare Earths – Projeto Sulista
- Equinox – Projeto Campo Grande – Jequié
- Multiverse Mineração – Itamaraju
- Australia Mines – Projeto Jequié
- Gold Mountain – projeto Down Under
- Energy Fuels – Prado/Caravelas (monazita)
GOIÁS
- Aclara Resources- grupo Hochschild Mining) Módulo Carina
- Alvo Minerals – Projeto Ipora
- APPIA Projeto PCH (Projeto Cachoeirinha)
- OzAurum – Projeto Catalão
MINAS GERAIS
- Meteoric Resources – ETR-Projeto Caldeira – Poços de Caldas
- Enova Mining – Projetos Coda e Poços
- Viridis – Poços de Caldas
- Terra Brasil (Patos de Minas e Presidente Olegário/MG)
- Saint George Mining (antiga MBAC/Araxá
- Harvest – Projeto Arapua/MG (ERT como nova substância)
- Bemisa – Projeto Bambuí/MG
- Axel REE Projeto Caladão e Caldas
- Equinox – Projeto Mata da Corda/MG
- SUMMIT – Projetos Aratapira e T1-T2
- RESOURO – Projeto Tiros (Titânio/Terras Raras)
- Perpetual Resources – Projeto Raptor
- OzAurum – Projeto Salitre
TOCANTINS
- Mineração Serra Verde (Jaú do Tocantins/Palmeirópolis/TO)
- Alvo Minerals – Projeto Bluebush
PIAUÍ
- Axel REE – Projeto Corrente
MATO GROSSO
- SUMMIT – Projeto Itiquira,
PARAÍBA
- SUMMIT – Projeto Equador
- SUMMIT – Projeto Juazeirinho
LÍTIO TEM PLANTAS PRODUZINDO EM MG
Sobre o lítio, a Agência informou que vários projetos estão sendo avaliados em Minas Gerais, Ceará e em outras regiões do Nordeste, como Paraíba, envolvendo empresas como Spark Energy, Solis, Atlas Lithium, Lithium Ionic, Xplore, Gold Mountain, Latin Resources, Oceana Lithium, St Antony, Deep Rock Minerals e Si6 Metals.
Já em produção comercial deste mineral, estão as mineradoras CBL, AMG e Sigma, com plantas operando no estado de Minas Gerais.
