Há um cheiro de podre no reino da Dinamarca

Os fornecedores da indústria mineral brasileira estão em pânico. Quando os poucos grupos de mineração de grande porte suspenderam o desenvolvimento de novos projetos em meados de 2013, a indústria de bens de capital imaginou que fosse algo passageiro. Passados 12 meses, o suspense continua.
Shiploaders (carregadores de navios) no Corredor de Exportação do Porto de Paranaguá

A escassez de novos pedidos atormenta os fabricantes de equipamentos e sistemas para mineração e beneficiamento, já pressionados pela competição agressiva dos concorrentes da China e Leste Europeu, cujos preços esmagadores são usados como referência nas negociações dentro do mercado nacional. É a clássica ameaça — “se você não acompanhar a concorrência nos preços, preferimos importar…” A qualidade deixou de ser um obstáculo do “made in China” porque melhora a olhos vistos. Os equipamentos feitos no Leste Europeu, idem.

Recentemente, um carregador de navio de um terminal portuário de exportação chegou inteiramente montado da China. Ele foi descarregado, posicionado, regulado e posto a operar em poucos dias. Uma fábrica de componentes aqui chegou a fornecer alguns subsistemas, mas através da sua própria subsidiária e fábrica na China. O Brasil não vendeu um parafuso a esta instalação.

Funcionário trabalha em linha de montagem de jatos na sede da Embraer, em São José dos Campos (SP)

Há fabricantes brasileiros que hoje têm mais pedidos da mineração no Chile e Peru—economias relativamente modestas se comparadas ao PIB nosso. Mas na mineração desses hermanos, há grupos globais muito ativos em projetos de novas minas que já estiveram no Brasil, fizeram alguns projetos piloto mas não deitaram raízes. Esses grupos alertam que os problemas estão no “custo Brasil” em logística, legislação trabalhista, burocracia nos três níveis de governo e licenças ambientais.

A política industrial nacional está falida, embora ninguém admita isso. Fabricar carros já não significa prestígio tecnológica para país algum. As indústrias tradicionais, como siderurgia e bens de capital, foram varridas dos EUA e Inglaterra, com raras exceções. Esses países ficaram, entretanto, com a tecnologia e agora mandam fabricar onde o custo for competitivo. Eles também optaram por se especializarem em nichos de mercado, onde produtos industriais específicos possuem maior margem porque dependem de tecnologias proprietárias—não disponíveis em prateleira. Um exemplo clássico são as escuderias de Fórmula 1 que se concentraram na Inglaterra, graças à disponibilidade local de tecnologias e materiais “exóticos”, além de engenheiros e projetistas talentosos.

Túnel de vento para teste de carro de Fórmula 1

A mineração brasileira precisa ser revigorada com o ingresso de novos players globais. A indústria de bens de capital tem que ser repensada em termos de competitividade e inovação tecnológica—pedir subsídio e proteção não garante o futuro. A economia nacional precisa de um projeto de desenvolvimento menos dependente do modelo exportador decommodities. Há um sentimento no ar de que os formatos atuais se esgotaram. Os próximos governantes precisam renovar o ideário, o projeto de nação e as práticas políticas e de gestão pública. São desafios formidáveis.