A matemática da produtividade: como Jacobina elevou o nível sigma da perfuração vertical

Em operações subterrâneas, pequenas variações de desempenho podem gerar impactos significativos em custos, segurança e produtividade. Na mina de Jacobina (BA), da Pan American Silver Brasil, a resposta para esse desafio veio da combinação entre tecnologias de automação, gestão por dados e a aplicação rigorosa da metodologia Lean Six Sigma.

O projeto, inscrito no 27º Prêmio de Excelência da Indústria Minerometalúrgica, mostra como a análise estatística e a padronização operacional elevaram o desempenho da frota de perfuração vertical, reduzindo variabilidade e ampliando a eficiência do processo.


O problema: alta variabilidade e horas improdutivas

Antes da implementação do projeto, a operação registrava:

  • Utilização Física (UF) média de 58,35%
  • Oscilações frequentes no desempenho dos equipamentos
  • Perdas de produtividade durante trocas de turno
  • Histórico de horas improdutivas não estruturadas
  • Dificuldade em manter estabilidade operacional ao longo do tempo

Esses fatores indicavam que o desafio não estava apenas na capacidade dos equipamentos, mas principalmente na variabilidade do processo.


Lean Six Sigma aplicado à mineração subterrânea

A equipe de Excelência Operacional estruturou o projeto com base em Lean Six Sigma – Black Belt, adotando ferramentas clássicas da metodologia industrial, adaptadas à realidade da mina subterrânea.

Definição do KPI

O principal indicador escolhido foi a Utilização Física (UF) da frota de perfuração vertical, por refletir diretamente o impacto das tecnologias e da padronização operacional.


Análise estatística: entender a variabilidade

Para compreender o comportamento do processo, foram utilizadas:

  • Análises históricas de desempenho
  • Boxplot para identificar dispersão e outliers
  • Avaliação da distribuição dos dados de UF
  • Estudo da taxa de variação entre turnos

Essa etapa foi fundamental para mostrar que o maior potencial de ganho estava na redução da variabilidade, e não apenas no aumento pontual da média.


Kaizen e causas-raiz

Com base nos dados, foi conduzido um Kaizen multidisciplinar, envolvendo:

  • Operação
  • Manutenção
  • Engenharia
  • Fornecedores
  • Lideranças da mina

As principais causas foram mapeadas por meio de:

  • Diagrama de Ishikawa
  • Matriz esforço x impacto, priorizando ações com maior retorno operacional

Tecnologia como alavanca de estabilidade

O projeto foi apoiado por três tecnologias-chave:

Bit Changer

  • Troca automática de brocas
  • Redução de tempo improdutivo
  • Eliminação de intervenções manuais em áreas críticas

Teleremote

  • Operação remota durante trocas de turno
  • Maior continuidade operacional
  • Redução de riscos à segurança

One Hole

  • Padronização do ciclo de perfuração
  • Redução de variações operacionais
  • Ganho de repetibilidade no processo

Controle e acompanhamento das ações

Para garantir execução e disciplina operacional, a equipe estruturou:

  • Plano de ação 5W2H
  • Monitoramento contínuo dos KPIs
  • Acompanhamento visual via Power BI, consolidando dados de utilização e produtividade

Até novembro, 57% das ações previstas haviam sido concluídas, mantendo o projeto em evolução contínua.


Resultados: menos variação, mais produtividade

A combinação entre metodologia, dados e tecnologia trouxe resultados claros:

  • Utilização Física (UF): 58,35% → 66,50%
  • Nível sigma: 2,26 → 3,38
  • Redução significativa das horas improdutivas
  • Maior estabilidade entre turnos
  • Aumento da previsibilidade do desempenho

Mais do que elevar a média, o projeto conseguiu reduzir a dispersão, tornando o processo mais confiável.


Impacto financeiro e operacional

O ganho anual estimado com a melhoria da produtividade foi de aproximadamente US$ 342 mil, além de benefícios indiretos associados à segurança, confiabilidade e padronização operacional.


Produtividade com inclusão

Um destaque adicional foi o avanço em diversidade: a operação passou a contar com 16% de mulheres na perfuração vertical, reforçando que eficiência operacional e inclusão podem caminhar juntas.


Por que esse case importa para o setor

O projeto de Jacobina mostra que:

  • Lean Six Sigma é plenamente aplicável à mineração subterrânea
  • A estatística é uma aliada poderosa da produtividade
  • Reduzir variabilidade é tão importante quanto aumentar produção
  • Tecnologia só gera valor quando integrada à metodologia

Trata-se de um exemplo claro de excelência operacional baseada em dados.


Projetos como o de Jacobina demonstram como metodologia, tecnologia e gestão por indicadores transformam operações minerárias.

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