“O programa da Vale é prioritário – ele é o nosso compromisso com as comunidades”, diz Adriana Bandeira

“O programa da Vale é prioritário – ele é o nosso compromisso com as comunidades”, diz Adriana Bandeira

Uma verdadeira vigília e busca constante na mineração, sem sombra de dúvidas, é o aprimoramento nos processos de descaracterização de barragens e segurança em suas operações. Se preocupar com vidas humanas e o meio ambiente, acima da economia que o minério promove, se tornou um lema para todas as mineradoras, principalmente para a Vale. Com esse sentimento “de que ninguém esquecerá o rompimento em Brumadinho, e de que a responsabilidade de aperfeiçoar as operações são metas diárias”, é que a diretora de Descaracterização de Barragens e Projetos Geotécnicos da Vale, Adriana Bandeira, assumiu a pasta – talvez uma das mais desafiadoras – da companhia.

Com exclusividade, Adriana recebeu a equipe da revista Minérios e Minerales no final de abril no Centro de Operações Remotas (COR) da Vale, em Belo Horizonte (MG). Ela contou de como tem implementado o Programa de Descaracterização da Vale, que já eliminou 17 das 30 estruturas existentes nas minas e dos projetos previstos na pasta, que conta com investimentos de até US$ 5 bilhões até 2035.

Confira a entrevista na íntegra:

MM – Nos conte sobre sua carreira profissional e quando assumiu a pasta sobre Descaracterização de Barragens e Projetos Geotécnicos da Vale? Quais foram os desafios ao assumir este setor?

A – Tenho 25 anos de carreira no setor de Óleo e Gás e fui convidada no início de 2023 para a Vale. O propósito era justamente transformar essa área de projetos, e com um olhar diferente em como tocar projetos, a partir das minhas experiências. Na época, realmente, ao mesmo tempo que o convite me motivou também me desafiou, e me questionei em como conduzir uma área com tanta complexidade, ineditismo, e então, como poderia garantir tudo que estava sendo feito e dar continuidade ao programa, porque naquela época, a partir de 2023, as etapas seguintes eram as mais complexas.

MM – Desde 2019, a Vale iniciou o Programa de Descaracterização de barragens executadas pelo método a montante. Até maio de 2024, eram 13 estruturas reabilitadas das 30 barragens inativas. Quais são as próximas a passar pelo processo?

A – Em 2024 totalizamos 17 estruturas descaracterizadas. No final do ano passado foram quatro eliminadas, sendo as mais importantes B3 e B4, a primeira em nível 3 do programa; tivemos também duas concluídas em Itabira-MG, Dique 1 A e Dique B, onde totalizamos 80% de descaracterização das estruturas naquele município, e, no final conseguimos descaracterizar a Área IX.

Para 2025, planejamos a partir do segundo semestre eliminar mais duas, que são Grupo, no Complexo de Fábrica em Congonhas- -MG, e Campo Grande, no Complexo de Mariana-MG, e com isso iremos completar 63% do Programa de Descaracterização neste ano.

Temos até 2035 para eliminar as remanescentes. Entre as 11 restantes, estão uma única estrutura em nível 3 que é Forquilha, e Forquilha I e II de nível 2; temos a Barragem Sul Superior, que conseguimos através de muitos testes diminuir o nível de 3 para 2, e enfim, outras que teremos para finalizar a partir de 2026, além das já programadas para 2025.

MM – Na última matéria presencial que tivemos dedicada a este tema, com o então diretor Carlos Miana, em 2020, a Vale tinha acabado de iniciar o programa, e contou que a primeira etapa desse processo era a retirada da água dessas estruturas por meio de uma drenagem periférica. Explique as etapas de descaracterização até chegar ao plantio de vegetação nessas áreas?

A – A primeira etapa ao descaracterizar uma estrutura é que temos que garantir que a drenagem daquela barragem esteja funcional, mas isso não é algo contínuo, ou seja, o projeto que a gente faz de uma drenagem tem que ser validada a cada ano, pois fazemos uma preparação diferente para cada uma
delas no período chuvoso, de outubro até final de março. Sendo assim, o processo de descaracterização é faseado, primeiro tem a retirada dos rejeitos, mas, às vezes, dependendo da estrutura, antes da remoção dos rejeitos precisamos fazer alguns reforços, ou remoção parcial, então cada estrutura tem uma solução diferente.

Para a fase de retirada dos rejeitos, esse processo passa por uma governança com participação de stakeholders que passa pela aprovação de cada fase. Entre eles temos auditores do Ministério Público, técnicos da própria Vale, o ITRB e outros, que vão avaliar se podemos ir para a próxima fase. E após essa remoção de rejeitos, garantindo a estabilidade da estrutura, passamos para o processo de reintegração da área, devolvendo-a às condições originais.

MM – Nesses seis anos de programa, quais metodologias e tecnologias foram adotadas para otimizar os processos de descaracterização?

A – Nós utilizamos, para algumas estruturas, onde não conseguimos acessar com pessoas, os equipamentos de operação remota. Por isso temos um Centro de Operações Remotas onde temos 25 cockpits (cabines com sistemas que simulam a operação real dos equipamentos), que operam as máquinas e caminhões à distância.

Vamos fazer uma expansão até o final deste ano para ter 100 cockpits, com os quais contemplaremos
quatro obras, que são Barragem Sul Superior, Forquilha III, II e I. O objetivo é que, ao invés de dois
turnos, tenhamos três até o final de 2025, operando praticamente 24 horas com equipamentos remotos.
Temos, como exemplo, as Barragens B3 e B4 completamente descaracterizadas com equipamentos
não tripulados, ou seja, comandados por operação remota. Então, nosso objetivo é tirar cada vez mais as pessoas da exposição ao risco.

Além dos equipamentos não tripulados, temos o penetrômetro remoto que nos ajuda a fazer uma sondagem nas estruturas, além de instalarmos instrumentos para monitoramento contínuo, entre outras tecnologias que dão mais segurança e permitem avançar no programa de descaracterização.

MM – Além dos descomissionamentos, quais novos projetos sustentáveis a Vale vem investindo pensando em inovar suas operações e gestão de rejeitos, e também nas tendências para o futuro como por exemplo a mineração circular?

A – Temos o Programa de Mineração Circular chamado Waste to Value, que é um novo olhar de como podemos desenvolver soluções no nosso processo de mineração para reduzir a geração de rejeito e, ao mesmo tempo, que possamos reaproveitar esses rejeitos. Dentro do Programa de Descaracterização já temos alguns exemplos de reaproveitamento dos rejeitos como em Vargem Grande, que é um exemplo de uma estrutura que vem sendo descaracterizada que, através desse processo, estamos aproveitando parte desses rejeitos.

E, a partir do programa Waste To Value com a recuperação dos rejeitos, temos já um coproduto que é a areia. Além disso, nesse processo de mineração circular temos de fato iniciativas que nos aproximam da comunidade e tornam nossas entregas mais sustentáveis.

MM – Quais os investimentos da Vale no Programa de Descaracterização de Barragens e qual o cronograma desses aportes?

A – O programa contempla um montante de US$ 5 bilhões de dólares desde seu início, em 2019 até
2035, e até o momento já aplicamos 40% desse total, sempre investindo em novas tecnologias para a descaracterização das estruturas.

MM – Para finalizar, quais são os compromissos da Vale perante a sua pasta de Descaracterização de Barragens?

A – Para nós, da Vale, esse programa é estratégico, ele é o nosso compromisso em cumprir e garantir a segurança das nossas operações com a proximidade das comunidades que a gente atua. Então ele é prioritário. Internamente, na Vale, ele tem o suporte de toda a cadeia da companhia, porque nós queremos, de fato, que chegue o dia em que nós não tenhamos mais nenhuma estrutura a montante e assim concluir nosso programa.

Conheça as 13 barragens que ainda estão em processo de descaracterização:

Campo Grande
ED Vale das Cobras
ED Monjolo
Cordão Nova Vista
Grupo
Doutor
Minervino
Vargem Grande
Forquilha I
Forquilha II
Forquilha III
Sul Superior
Xingu

As 17 estruturas que já foram descaracterizadas: