ma das cidades mais antigas do país, Ouro Preto sediou, no fim de novembro, a 10ª edição do Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral (Simexmin), evento técnico-científico organizado pela Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro
(Adimb), considerado fórum relevante para o desenvolvimento da pesquisa mineral do país. Durante três dias, a comunidade de pesquisa mineral do Brasil e do exterior se reuniu para debater temas de interesse do setor. A escolha da cidade foi representativa, já que Ouro Preto integra o “Quadrilátero Ferrífero”, região localizada no centro-sul do estado de Minas Gerais que é a maior produtora nacional de minério de ferro. Sessões temáticas com a participação de profissionais da indústria, da academia e do governo, além de especialistas de nível internacional, envolveram aspectos técnicos, econômicos, políticos, de investimentos e legais, sociais, ambientais e de governança relacionados à pesquisa mineral e mineração no Brasil.
Entre elas, palestras de representantes de grandes mineradoras atuantes no país, como Vale, Nexa, Jaguar Mining, Bahia Nickel, Centaurus Metals, Oz Minerals, entre outros.
MINÉRIO DE SUCURI NORTE PODERÁ SER TRATADO EM VAZANTE
O engenheiro químico Daniel Alves, da Nexa, por exemplo, apresentou a palestra “Caracterização geometalúrgica de um novo alvo chamado Sucuri Norte Nexa Resources Vazante (MG)”, na qual detalhou os trabalhos realizados no complexo de Vazante – que além da mina que leva o mesmo nome, tem outras três, uma delas a de Sucuri Norte. Com a exaustão das áreas de lavra na mina de zinco de Vazante, em Minas Gerais, a Nexa apontou a necessidade de aportar minério na região de Sucuri Norte para manter o nível de produção do metal contido no complexo. Quarta maior produtora de zinco no mundo, a empresa investiu em um projeto de geometalurgia para caracterizar o minério da nova região a ser explorada e se certificar que trata-se de mineral semelhante ao de Vazante. “Os processos e equipamentos que temos hoje na mina de Vazante conseguem processar? É isso que o escopo de metalurgia. Ou a gente precisa de outro processo? A geometalurgia é importante por isso, ela vem sanar esta dúvida”, ressaltou Daniel. Na Mina de Vazante, o principal tipo de minério é o willemítico, com sulfetos de chumbo subordinados. Os dois tipos são extraídos (silicatado e sulfetado) e tratados em plantas de concentração por meio de processo de britagem, moagem e flotação, resultando em um concentrado de chumbo, com prata agregada; e outro de zinco silicatado. Na usina de beneficiamento, existem dois circuitos: calamina e willemita. Em um depósito mineral, além da variação de teor, existem inúmeros outros parâmetros que impactam diretamente no rendimento final de um empreendimento. Exemplos destes parâmetros é variação de dureza, mineralogia, grau de liberação do mineral minério, porosidade, entre outros. A geometalurgia envolve estudos de desenvolvimento tecnológico, nas áreas de caracterização mineralógica, britagem, moagem, flotação, entre outros. O detalhamento da natureza e complexidade das tipologias minerais presentes em uma jazida visam definir a melhor oportunidade para a extração do elemento de interesse. O uso destes parâmetros geometalúrgicos quebram barreiras entre as áreas operacionais, identificando previamente a variabilidade do comportamento metalúrgico de diferentes tipos de minérios e, além disso, apoiam a estabilidade dos processos. “Como a tecnologia procurou responder isso? Coletamos amostras da Mina Vazante – minério standard, que é processado atualmente – e de amostras de furos de sondagem da região de Sucuri Norte e de Extremo Norte. Foram para a planta piloto que há em Vazante, britaram material dos furos de sondagem, fizeram a composição e a homogeneização do material. O pessoal da geologia identifica o teor de zinco e de chumbo. Com a caracterização que recebem, tentam compor a amostra, para que ela seja representativa, com as mesmas características – teor de zinco e composição de minerais muito próximos que a geologia identificou na área”, detalhou Daniel Alves. Ele lembra que após a conclusão da validação junto à área, foram realizados testes de flotação e granuloquímica, que se apresentaram muito próximos para Vazante e Extremo Norte. “Em 10%, 10 gramas está na fração de 150; 19 gramas, na faixa de 106. Então, a distribuição ficou bem parecida. A gente já vê que não vai ter muito problema na outra flotação”, ressaltou o engenheiro químico da Nexa. Outra caracterização feita e que foi enviada para o centro de microscopia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que faz a caracterização mineralógica e mapeia como o zinco está distribuído. A conclusão foi de que Mina Sucuri Norte é bem parecida com Vazante – com um pouco mais de contaminante em Sucuri Norte, o que poderia ser um problema, mas não é. “O resultado que importa é de AI, que é o índice de desgaste do material. E os de Vazante e Sucuri Norte são muito próximos. O minério das duas minas é caracterizado por uma abrasividade muito baixa”, ressalta Daniel Alves. Outro ensaio importante realizado foi em relação à questão da energia: quanto seria necessário para fragmentar a partícula. E, mais uma vez, o minério da região de Sucuri Norte teve comportamento muito próximo ao de Vazante, com alta tenacidade. “Não são fáceis de quebrar, demandando uma energia alta. Mas como os circuitos de britagem e moagem estão preparados para processar o minério de Vazante, não será preciso adaptar – como trocar moinho, baixar taxa para garantir moagem. Então, vão processar o minério de Sucuri Norte nas mesmas condições e taxas que são operadas em Vazante e Extremo Norte”, explicou êle. Por fim, outra questão também importante que precisou ser respondida foi relacionada ao meio ambiente. E os estudos concluíram que o tratamento do rejeito de flotação de Sucuri Norte é caracterizado por minério não-perigoso, assim como Vazante. “A tecnologia, junto com a geometalurgia, atestaram que o projeto de Sucuri Norte traz desafios realmente na mina, que vamos ter que abrir caminho, chegar na região, tirar o minério de lá… teremos gasto com isso, mas não com usina. Não será preciso mudar nada na Usina de Vazante – britagem, moagem, flotação e tratamento da água permanecem da mesma forma, porque os minérios apresentaram características muito próximas”, concluiu Daniel Alves.
“COMO UM BANDEIRANTE”
Outra palestra que teve boa repercussão foi a do geólogo e gerente geral de exploração da Oz Brazil, Jailson Araújo. Ele contou como descobriu, em 2003, o depósito de Pedra Branca, primeira mina subterrânea de Carajás. Apesar de toda a tecnologia que evolui no setor de mineração, ele destaca que a experiência ainda conta muito na área. “Só tinha eu de geólogo no processo. Era uma option agreement, uma opção para adquirir a área, em três pagamentos e tínhamos que decidir se ficaríamos ou não com a área. Para isso, tinha que pagar um alto valor. Eu fiquei com a responsabilidade de decidir se a empresa ficaria ou não com a área. Fiquei três dias no local, quando vi várias formações na rocha que tinham potencial. Disse: ‘Pode pagar para adquirir a área’. E me pediram para efetuar os furos de sondagem. O primeiro já foi o descobridor”, lembra Jailson, que compara sua atuação, naquele momento, à de um bandeirante(no bom sentido, de pioneiro). “O trabalho foi baseado no background, na experiência. E no objetivo de trabalhar como prospector, e não como geólogo de mapeamento. Sair procurando evidências e não apenas mapeando dados. Como um bandeirante de antigamente”, compara. Jaílson Araujo também mostrou alguns dados da produção atual da mina Pedra Branca (cobre e ouro). E provocou a plateia a refletir sobre aceleração de descobertas de depósitos minerais, o valor de anomalias geoquímicas de pequena dimensão e a respeito do tempo entre a descoberta e o início da produção. Além disso, mostrou a importância que as empresas juniores podem ter no desenvolvimento da região em que pequenos depósitos – que não geram interesse das grandes empresas – podem ser desenvolvidos gerando empregos e benefícios a todos os stakeholders.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Também foram destaque na X Simexmin as políticas públicas do Governo Federal voltadas à pesquisa e prospecção mineral no país. A Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM) do Ministério de Minas e Energia (MME), o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) apresentaram um conjunto de estratégias, ações e produtos com foco no aperfeiçoamento da regulação do setor mineral e a evolução sistemática do conhecimento geocientífico do território brasileiro. Na abertura do evento, por exemplo, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, enfatizou a importância de uma interação entre os setores público e privado para que haja avanço da mineração no país. “A consolidação de um setor mineral dinâmico e sustentável se faz com a participação ativa dos diversos atores envolvidos. Assim, merece destaque a interação do setor com o Governo na busca de alternativas para aprimorar o arcabouço regulatório e na definição de políticas públicas para dinamizar a mineração. Um evento desta natureza, que tem a participação da indústria, da academia e do Governo, além de especialistas internacionais, certamente traz retorno positivo para o setor e para a sociedade”, destacou Sachsida.